S.T.A.R.S Home - 6º Dia
Medo

S.T.A.R.S Home - 6º Dia


6º Dia

- Rebecca? - Claire chamou a amiga, que estava sentada sobre a escada da sala principal.
A jovem enfermeira não respondeu, continuou parada. Claire avançou um pouco mais, e notou que o rosto de Rebecca estava borrado e inchado, coberto por lágrimas.
- ‘Becca, o que houve? - Claire sentou-se ao lado dela, tocando a amiga no ombro.
- Eu não queria que ela morresse... - sussurrou num fio de voz, ainda chorando.
- Eu sei disso. Ela não morreu por sua causa, você sabe disso.
Rebecca olhou dentro dos olhos de Claire, as lágrimas ainda teimando em escorrer de seus olhos, molhando os curtos fios ruivos de seu cabelo que grudavam em seu rosto.
- Claire, eu só fiquei nervosa, porque odeio que as pessoas fumem perto de mim. Eu disse inconscientemente. Juro...
- Eu sei, eu sei. Ela também sabia disso.
- Mas agora ela está morta. E eu desejei a morte dela minutos antes daqueles monstros aparecerem.
- Não se culpe. Quem a matou foi o Blue King. Você sabe disso.
Rebecca virou-se, olhando distraidamente para o vazio a sua frente.
- ASSASSINO! - gritou a plenos pulmões. - Por que não mostra a cara? Tem medo?
- Acalme-se, Becca! - Claire abraçou a amiga, que, acolhida nos braços da colega, chorou em meio de soluços de desespero.
- Me deixa sozinha, Claire. - disse Rebecca, olhando para a garota com um brilho estranho nos olhos.
- Por quê?
- Porque eu quero ficar sozinha, droga! - gritou, empurrando a jovem, que a olhava com espanto.
Claire saiu correndo, olhando para trás o tempo todo. Viu o quanto Rebecca estava atormentada, com a cabeça no meio dos joelhos, puxando os cabelos, as lágrimas escorrendo por seu rosto e grudando fios de seu curto cabelo nos olhos e nas bochechas.

* * *
Jill havia ficado no mesmo quarto que Chris. Eles nem se importaram com as ordens malditas de Blue King quanto à divisão de quartos. A noite anterior fora dura para eles.
- Você está acordada? - perguntou Chris, abraçado com a jovem, porém com a cabeça virada para o outro lado.
- Sim. Não consegui dormir a noite toda. - Jill cochichou.
- Nem eu. - ele virou-se, olhando para ela.
- Que morte horrível a da Ada, né?
- Todos nós teremos mortes horríveis, pelo que vejo.
- Pode ser. Mas eu vou proteger a Claire e você até o fim.
Jill sorriu, olhando-o dentro dos olhos.
- Chris...
- E não me peça para não fazer isso. É meu dever. Como profissional e como amigo e irmão.
O silêncio permaneceu por alguns segundos no quarto.
- Queria ser mais do que somente sua amiga. - disse Jill, olhando para o teto.
Chris puxou-a pelo queixo levemente, fazendo-a olhar para ele.
- Você é mais do que minha amiga, Jill.
- O que eu sou pra você, então?
- Você é uma mulher incrível, especial, a pessoa mais forte e mais honesta do mundo.
Ela sorriu, e Chris aproximou-se dela.
- E é também a única mulher que consegue mexer comigo de um jeito inexplicável...
Eles se beijaram com ardor. Chris segurou-a pela cintura e puxou-a para cima de si.

* * *

- Todos os participantes apresentem-se no Hall imediatamente. - a voz de Blue King exclamou pela casa toda.
Rebecca já estava no Hall, sentada na escada. Jill e Chris apareceram em seguida, logo depois chegou Claire, e, por último, Wesker.
- Eu tenho uma nova missão para vocês. - disse Blue King, seriamente.
- Ah, meu Deus! - Claire cochichou no ouvido de Chris.
- Alguns de vocês, eu diria Jill, Chris, Rebecca e Wesker, possivelmente se lembram dos famosos crests, certo?
- É, como poderíamos nos esquecer? - disse Jill, apertando os lábios.
- Exatamente. A próxima missão de vocês é encontrar os quatro crests. Cada equipe está encarregada de buscar dois crests. Equipe de Wesker encarregada da ala direita da mansão. Equipe de Claire encarregada de ala esquerda da mansão.
Um silêncio momentâneo reinou no local.
- Com licença, será que eu posso dizer uma coisa? - disse Claire.
- Naturalmente, Srta. Redfield. - a voz de Blue King parecia serena, pela primeira vez.
- Eu sou a única sobrevivente da minha equipe...
- Receio, então, que terá que procurar pelos dois crests sozinha, Srta. Redfield.
- O QUÊ? - a jovem exclamou.
- Ah, não!! A minha irmã não vai por aí sozinha, não! Eu vou com ela! - disse Chris, abraçando a irmã.
- Lamento, Sr. Redfield, mas regras são regras. Isso é um jogo, onde as regras devem ser respeitadas.
- Pouco me interessa as regras!!! A minha irmã não vai sozinha!
- Sim, ela vai. E vocês têm um minuto para se separarem e começarem a procurar os crests. Boa sorte.
A voz de Blue King desapareceu com o estampido de algo como um microfone sendo desligado. Claire olhou para o irmão, com uma expressão neutra no rosto.
- Claire...
- Eu vou ficar bem, Chris. Lembre-se que eu já sobrevivi a muita coisa.
Chris sorriu, abraçando a jovem e, em seguida, tomando-lhe as mãos.
- Eu sei o quanto você é forte. Você também sabe o tamanho da força que tem dentro de você.
Ela sorriu, tentando esconder o medo. Jill aproximou-se deles, segurando o grande envelope vermelho.
- Claire... - ela sorriu. - Eu acho mais do que justo que você fique com o mapa, e creio que falo por todos aqui.
Ninguém, nem mesmo Wesker, discordou. Claire tomou o envelope entre as mãos e sorriu para Jill.
- Obrigada!
Jill acenou e sorriu, em seguida afastou-se dos dois. Chris levantou o rosto e tomou a irmã nos braços.
- Se cuida, minha irmã! - ele beijou-lhe no rosto.
- Você também. - ela sorriu, beijando o irmão, e imediatamente uma discreta lágrima rolou de seus olhos. Claire limpou-a antes que Chris pudesse perceber. Era como se aquele beijo fosse o último que daria em seu irmão.
Claire afastou-se do grupo, e caminhou sozinha para a sala de jantar, fechando a porta.
Você vai voltar, minha irmã... Você tem que voltar!

* * *

Claire caminhou sozinha pela sala escura, procurando em seu bolso o isqueiro que Chris lhe dera. Tocou algo sólido no bolsinho de sua blusa. Lá estava o isqueiro, porém sem um pingo de fluído.
- Que beleza! Sozinha, no escuro! - Claire resmungou, baixinho, trêmula.
Não podia esconder o medo que sentia, era maior do que ela. Sabia que já enfrentara perigos maiores, mas não temia só por ela. Preferia morrer a ver seu irmão morto. Chris era quem mais lhe preocupava, ainda mais que eles nem sabiam o que lhe aguardava por lá. Lembrou-se das palavras cruéis de Blue King, quando este disse que apenas um sobreviveria no final.
- Tem que ser o meu irmão. Eu dou a minha vida pela dele. - pensou alto, em seguida suspirando profundamente.
Entrou num pequeno jardim escuro. Tocou a parede ao seu lado, procurando por um interruptor, acendendo a luz e notando que estava numa espécie de estufa, onde algumas plantas estavam depostas sobre prateleiras de madeira. Claire viu a fonte. Água limpa jorrava dela, e Claire sorriu de alívio.
Atravessou a fonte e tocou o que parecia uma espécie de vitrine. Sobre a parede de vidro, havia uma escritura e, lá dentro da vitrine, na outra sala, estava um crest, com uma figura de um sol radiante. Claire leu a escritura.
- “O Sol é o maior dos deuses do universo, e sua luz pode derrotar até a mais poderosa das bestas”. Mas como que eu abro isso aqui?
Claire olhou em volta no chão, procurando por algo para quebrar aquele vidro, mas não havia nada, exceto uma grande sombra que crescia atrás dela.

* * *

O local era escuro e gélido, dava arrepios em todos. Wesker ia na frente, seguido por Chris, Rebecca e, por último, Jill.
Jill procurava algo no que se apoiar, em meio à escuridão. Tocou uma mesa de madeira, que encheu seus dedos de pó.
- Uma vela. - Chris disse. - E parece que achei uma caixa de fósforos.
Ele tocou a mesa, passando as mãos por ela, até encontrar a caixa que escorregara de seus dedos. Ao recuperá-la, acendeu o fósforo e pôde, finalmente, ver claramente os rostos de Wesker e Rebecca. Jill estava logo atrás da jovem enfermeira, observando uma grande figura no teto. Todos instantaneamente fizeram o mesmo, e a figura parecia ser o desenho de uma grande lua.
- Tem algo escrito. - disse Rebecca, apertando os olhos.
Wesker olhou em volta da mesa e viu quatro candelabros, com uma vela cada um.
- Chris, acenda essas velas.
Chris assentiu, acendendo vela por vela, com os poucos fósforos que havia na caixinha.
Jill franziu as sobrancelhas, tentando ler o que a mensagem dizia.
- “A Lua somente surgirá sobre a poderosa voz da deusa, que canta todos os dias para saudar a grande rainha dos céus”.
- Que diabos é isso?? - Wesker resmungou.
- Lua, deusa, voz poderosa, cantar, saudar... - Rebecca pensava.
- Olhem na mesa! - Chris disse, e sobre a mesa havia inscrições estranhas.
“If you were a king up there on your throne
Would you be wise enough to let me go?
For this queen you think you own
Wants to be a hunter again
Wants to see the world alone again
To take a chance on life again, so let me go”

(Se fosse um rei sobre seu trono / Você seria esperto o bastante para me deixar ir? / Por essa rainha que você pensa que te pertence / Quero ser uma caçadora novamente / Quero ver o mundo sozinha, de novo / Para ter uma chance na vida, novamente / Então, deixe-me ir)

A voz agradável de Jill encheu a sala, numa bonita e alta melodia. E, em seguida, quando Jill cantava as últimas sílabas da canção, o som de uma passagem se abrindo assustou-os. Uma passagem havia se aberto atrás de Wesker, e, de lá de dentro, vinha uma imensa claridade.
- Vamos. - Wesker cochichou, e todos assentiram positivamente, seguindo-o.
A visão dentro da passagem era esquisita. De uma janela, via-se uma imensa Lua cheia, que clareava a saleta totalmente, e, dependurada sobre o parapeito superior da janela, uma grande criatura parecia observá-los com atenção. Havia algo pendurado na criatura, algo como uma coleira enorme, com uma figura hexagonal esculpida em ouro, presa em seu pescoço.
- O que é isso? - Rebecca sentiu suas mãos suarem, suas pernas ficando bambas.
- Parece um... - Jill tentou falar, mas não queria acreditar em seus olhos.
- Morcego! - Wesker completou, num grito que despertou a criatura. - Corram!
Todos voltaram para a saleta, e o enorme morcego foi atrás, jogando suas asas gigantescas sobre um deles. Jill sentiu uma grande dor em seu abdômen, ao cair sobre a mesa, uma das velas caindo no chão, ao seu lado, o fogo quase a atingindo. A criatura gritou agudamente, afastando-se do fogaréu sobre o assoalho de madeira.
- Joguem as velas contra ele! Rápido! - Jill gritou, tentando voltar a se equilibrar, mesmo com a dor terrível.
Wesker e Chris pegaram os candelabros e atiraram na criatura, que debateu-se, meio tonta, jogando-se contra a parede, enquanto o fogo se espalhava sobre seu corpo imenso e robusto, negro como a noite. A coleira se arrebentou, caindo no chão. Jill correu e puxou-a com o pé, agachando-se e pegando-a.
- Vamos sair daqui, rápido! - Wesker abriu a porta. Rebecca saiu primeiro, seguida de Jill e Chris, e, por último, Wesker, que bateu a porta de madeira com força.
Todos respiravam ofegantemente, seus corações disparados.
- Vocês estão bem? - perguntou Wesker, num fio de voz, e a pergunta soou estranha dos ouvidos de Rebecca, Jill e, principalmente, de Chris.

***

Os tentáculos que saíram de dentro da fonte se debatiam diante dela, agitados, nervosos, furiosos. Claire, num impulso, jogou-se para trás, encostando-se sobre a parede de vidro. Um dos tentáculos agarrou-a no braço, puxando-a, enquanto outro a agarrou pela cintura.
Claire debateu-se, tentando-se soltar, o tentáculo a apertava com força, balançando de um lado para o outro, jogando-a na parede, perto da porta.
A jovem sentiu-se tonta, tocando a cabeça, que doía por causa da pancada.
Olhou para cima e viu uma espécie de holofote gigante. Os tentáculos continuavam a debater-se insistentemente. Claire tocou o interruptor acima de sua cabeça, e um deles, de cor vermelha, dizia “Luz Solar Artificial”.
- Luz do Sol! É isso! - disse, apertando o interruptor, e um grande holofote começou a mover-se, lentamente. Uma luz invadia o local, cegando a criatura, queimando-a, enfraquecendo-a. E finalmente os tentáculos caíram mortos, e a parede de vídeo se moveu.
Claire levantou-se devagar, observando as plantas que morreram por causa da luz do Sol, e os tentáculos já murchos no chão. Ali, diante de seus olhos, estava o crest do Sol.
- Já é meio caminho andado. Melhor eu continuar e procurar pelo segundo.

* * *

- Estamos, sim. - disse Jill, se recompondo. Tocou a testa, limpando o suor com as costas das mãos.
- Vejo que conseguiram passar pelo morcego. - a voz de Blue King surgiu. - Vocês são bem inteligentes. Estão indo muito bem.
- E minha irmã? - perguntou Chris, olhando para cima.
- Não se preocupe, Chris. Claire está bem. Agora, continuem procurando. Ainda há dois crests dentro da casa. Um fica a cargo de vocês e, o último, a cargo de Claire.
- Se algo acontecer com a minha irmã, eu mato você, seu infeliz, desgraçado, maldito! - gritava Chris, apontando para o teto, como se Blue King estivesse lá.
- Calma, Chris, calma! - disse Jill, tocando seu ombro. O rapaz suspirou profundamente.
- Vamos continuar procurando. - disse Rebecca, e todos concordaram em silêncio.

* * *

- Que lugar é esse? - Claire franziu as sobrancelhas, observando a imensa a sala. Espelhos por todos os lados, no teto, no chão, nas paredes. Era uma espécie de labirinto, com espelhos que a faziam tomar diversas formas. Algumas assustadoras. Claire caminhou, vagarosamente, pela sala. Entrou num corredor e percebeu escrituras estranhas na parede. Pareciam letras gregas.
- Como se eu entendesse grego. Nem espanhol eu consegui aprender no colégio. - disse, dando uma risada de ironia. - Esse lugar já está me deixando louca, eu até falo sozinha. - murmurou, olhando no espelho e sorrindo. - Claire Redfield, se você sobreviver a esse pesadelo, vai precisar de um hosp...
Sua fala desapareceu, ao perceber que as letras não eram gregas, apenas estavam ao contrário. De trás para frente. Mas ainda havia algo estranho com elas.
Parecem estar de ponta-cabeça...
Claire franziu as sobrancelhas, coçando a cabeça, olhando ao seu redor, pensando em algo que a ajudasse a desvendar o enigma. Olhou para baixo, e lembrou-se que estava pisando em espelhos também.
- O piso! - disse, sua voz ecoando pela sala.
Encostou o rosto no espelho, tentando ler a mensagem:
- “As estrelas guiarão o viajante pela estrada sem fim”.
Revirou os olhos, pensando com ironia no quanto aquelas frases idiotas a deixavam confusa. Olhou inconscientemente para o teto e viu o desenho de uma estrela, dentro dela a letra N.
- N? Norte? - cochichou. Seguiu, então, por um corredor ao norte.
- Outra estrela? - disse, olhando para cima.
A estrela tinha a letra L dentro dela.
- Certo. Leste.
Seguiu para o leste, como a estrela ordenava. O chão de espelhos rangia sobre seus pés, como se, a qualquer momento, ele fosse se partir. Claire sentiu um frio na barriga, e tentou andar mais levemente sobre ele.
Outra estrela, logo adiante, no teto. Havia a letra O nela. Claire supôs que fosse oeste e seguiu em frente. Concluiu que sua conclusão estava correta. Logo a frente, no próximo corredor, à oeste, havia outra estrela desenhada no teto, e a letra S desenhada.
- Sul. - disse, olhando para frente e observando que o corredor acabava ali. - Mas...
Imaginou se teria que voltar tudo e começar de novo, mas tinha certeza que estava no lugar certo. Seu instinto a dizia.
Sul... Sul...
E uma luz veio em sua mente, Claire impulsivamente olhou para baixo e viu o crest das Estrelas no piso. Agachou-se, um sorriso de vitória e orgulho de si mesma nos lábios. Enfiou a unha no meio dos espelhos, tentando puxar o crest. Mas este não saia. Puxou a faca de seu bolso. Enfiou no vão do encaixe do crest, tentando puxá-lo. Ele moveu-se, revirando dentro do pequeno espaço. Após várias tentativas, ele finalmente se desencaixou do chão de espelhos, e Claire o pegou, apertando-o entre os dedos, o sorriso de vitória ainda em seus lábios.
- Consegui! - disse, gargalhando, até olhar para o lado e perceber uma mensagem inscrita no espelho, seu sorriso desaparecendo: - “Todos aqueles que se arriscaram, tentando levar o ornamento dos deuses, perderam suas vidas, mergulhando para sempre no abismo”.
Claire sentiu novamente um frio na barriga, observando dentro do vão onde estava o crest. Viu uma grande escuridão por ele. E de repente, seu pensamento do chão de partindo virou realidade. Claire levantou-se rapidamente, cambaleando, tentando correr, andar sem tropeçar, mas era impossível. Os espelhos abaixo de seus pés iam desfazendo em grandes estilhaços, um a um. Claire jogou-se no corredor, assim que o último espelho desfez-se debaixo de seus pés, tropeçando. Estava agora à beira do abismo, apenas as pontas de seus dedos a impediam de cair.
Finalmente a queda, que não foi tão dolorosa, mas um segundo depois algo a perfurou no estômago. A dor aguda se espalhou por todo seu corpo. Tocou a barriga e seus dedos se encharcaram de sangue. Claire, que ainda mantinha o crest firme entre seus dedos, foi perdendo suas últimas forças.

* * *

- Claire... - Chris disse.
- O que você disse, Chris? - perguntou Jill.
- A Claire, Jill. Tive um pressentimento estranho, como se algo tivesse acontecido com ela.
- Fique calmo, Chris. Não aconteceu nada. - Jill acariciou o ombro do rapaz, tentando de algum modo confortá-lo.
Chris nada respondeu, apenas não conseguia tirar aquele pensamento de sua cabeça, caminhando pela sala e só voltando em si ao tropeçar num fio, algo como uma extensão para tomada.
- Droga! - disse.
Wesker apenas o observou, frustrado, sem dizer nada, voltando a se concentrar. Estavam diante do último enigma. Wesker observava uma cidade em uma enorme maquete feita de madeira. Viu a réplica de uma igreja, de casas grandes e pequenas, de lagos e cachoeiras e, bem no meio daquela cidade em miniatura, um moinho de vento.
Rebecca observava ao redor da maquete, e leu a seguinte frase:
- “O sopro do Deus furioso pode destruir toda uma cidade, povoada por uma legião de pecadores”.
- Hum... - Wesker murmurou, observando a maquete com atenção, aproximando para enxergar melhor o moinho.
As hélices eram feitas de alumínio, a casinha feita de madeira. Observou dentro das minúsculas janelinhas e viu algo reluzindo lá dentro, mas não parecia ser o crest.
- Alguém procure um interruptor, rápido.
Jill olhou por toda a sala, tocando o fundo da maquete, encontrando algo como uma tomada enrolada na madeira.
- Encontrei isso. - disse Jill, puxando o fio o máximo que pôde. Chris olhou para o chão e viu a extensão para tomada onde tropeçara, minutos atrás.
- Acho que já sei. - disse ele, puxando a tomada de Jill e encaixando-a na extensão.
A maquete se iluminou, e uma lâmpada dentro do moinho se acendeu. Wesker esperou uma reação nas hélices, mas nada aconteceu.
- Merda! Não adiantou nada! - resmungou, bufando de raiva.
- Você viu isso??? - perguntou Rebecca, encostando-se do lado de Wesker.
- Isso o quê? - perguntou ele, fitando-a, indignado.
- Observe. - Rebecca soprou levemente, e o moinho moveu-se levemente.
Os olhos de Wesker brilharam.
- Então é isso! - disse ele, sorrindo, e soprando com toda sua força.
O moinho moveu-se, mas nada mais aconteceu.
- Acho que precisaremos do sopro de todos juntos. Chris, Jill! - Rebecca chamou.
Chris e Jill aproximaram-se, fitando Rebecca com atenção, já entendendo o que teria de ser feito.
- No três. Um, dois, TRÊS!
E os quatro sopraram na direção do moinho, o máximo que podiam, por longos e intermináveis minutos, até ouvirem o som de uma fechadura sendo destrancada. Uma passagem se abriu diante deles. Wesker olhou para os rostos surpresos de Chris, Jill e Rebecca, e acenou, caminhando na frente, entrando na passagem.
- O crest deve estar por aqui. Vamos procurar! - disse, e os outros entraram na passagem escura.
- Eu não consigo enxergar nada nessa escuridão. - disse Rebecca.
Apenas uma estranha iluminação vinha do alto, mas não iluminava nada. Chris percebeu que estava pisando em algo como estilhaços de vidro, e Jill debatia-se contra as paredes, procurando um interruptor.
- Achei um interruptor! - Jill gritou, apertando-o.
Uma fraca luz, vinda de uma lâmpada na parede, começava a iluminar o local. A intensidade da lâmpada ia aumentando gradualmente, até finalmente iluminar completamente a sala. E eles finalmente puderam ver o que estava lá. E Chris percebera que seu coração não estava enganado.
- CLAIRE?! - gritou, ao ver a jovem caída no chão. Havia um enorme e pedaço de vidro cravado em seu estômago, e seu sangue já formava uma imensa poça vermelho-escura em volta da garota. Mas ela ainda estava viva.
Chris agachou-se ao lado dela.
- Chris... - disse ela, num fio de voz, tão baixo que ele mal pôde escutar.
- Claire. Eu estou aqui. O que aconteceu?
Claire nada disse, apenas empurrou o crest das Estrelas para Chris, com as pontas dos dedos.
- Estou morrendo... - Claire suspirou, tentando respirar.
- Não, não está não! - Chris disse, com lágrimas nos olhos. - Eu não vou deixar que nada aconteça a você! Rebecca! - gritou, e Rebecca aproximou-se. - Temos que cuidar da minha irmã. Ela tem que ficar boa!
Os olhos de Rebecca se encheram de lágrimas, e ela sacudiu a cabeça para Chris, negativamente.
- Quê? - gritou ele, encarando Rebecca com ódio. - Como não?
Rebecca tampou a boca com a mão, apontando para o chão, perto de Claire.
- O estilhaço atravessou as costas dela, Chris. - disse Wesker, seriamente.
- E daí? Isso quer dizer que ela vai...? - perguntou ele, observando Rebecca, que já não continha as lágrimas e assentiu com a cabeça.
- Não! NÃO!!! - gritou, chorando desesperadamente.
- Chris... Sobreviva... Por mim... - Claire sussurrou.
- Claire... - murmurou ele, tocando o rosto da jovem, já pálido. - Eu te amo tanto, minha irmãzinha...
- Eu também... te amo... Chris... - disse ela, forçando um sorriso.
- Agüente firme, tá? Eu vou ficar do seu lado. - sussurrou, as lágrimas descendo por seu rosto e indo parar em seus lábios.
Claire estendeu a mão para o irmão, que a segurou levemente, acariciando-a, em seguida beijando-a.
- Tenho orgulho... de ter... sido sua... irmã... - murmurou ela com dificuldade, ainda sorrindo.
Chris desmanchou-se ainda mais em lágrimas, afagando os cabelos da jovem, que, aos poucos, ia deixando de respirar.
- Eu te amo, Claire... - disse ele.
E Claire deu um último suspiro, sua mão parou de acariciar a de Chris, e uma última lágrima desceu de seu rosto, seus olhos azuis agora imóveis.
Jill e Rebecca choravam em silêncio, observando a cena. Wesker abaixou a cabeça, em respeito. Chris fechou os olhos de Claire, seu choro agora mais desesperado do que nunca.
- Minha irmãzinha... - murmurou. - Claire...
Jill aproximou-se dele, tocando seu ombro.
- Por que fizeram uma coisa dessas com ela? Por quê?
- Chris, eu sinto muito... - Jill não sabia muito bem o que dizer. Chris a abraçou, trêmulo, sem conseguir se conter.
Ele nada respondeu, apenas pegou o crest da mão já quase fria de Claire, procurou pelo segundo crest nos bolsos da calça da garota e levantou-se. Viu que Wesker já segurava o último crest entre os dedos.
- Vamos. - disse Chris. Não temos mais nada a fazer aqui. - disse firmemente, dando os crests para Jill e agachando-se novamente ao lado da irmã.
- O que você está fazendo? - perguntou Jill, franzindo as sobrancelhas.
E Chris tomou o corpo da irmã em seus braços, o sangue da jovem sujando suas vestes. Mas Chris não se importava com isso.
- Eu não vou deixar minha irmã apodrecer num lugar desse.
- Ela está morta. - a voz de Wesker finalmente foi ouvida.
Rebecca e Jill não sabiam a quem encarar. Chris franziu as sobrancelhas, olhando com fria repugnância para Wesker.
- Não espero que uma criatura inumana como você compreenda esse tipo de atitude, Wesker. Você perdeu sua alma já faz muito tempo, não é mesmo? É compreensível.
Jill estava boquiaberta. Não imaginava que Chris fosse agir tão lucidamente, depois de ficar tão transtornado com a morte de Claire. Sentiu um grande orgulho de Chris, da compostura que tivera agora.
- Agora vamos embora. - disse, caminhando com o corpo de Claire em seus braços.

* * *

Os quatro sobreviventes viram os primeiros raios de Sol iluminando o Hall quando chegaram, abrindo a porta da sala de jantar bruscamente. Chris colocou o corpo de Claire cuidadosamente sobre o tapete, e Jill notou que a camiseta do rapaz estava totalmente embebida em sangue.
- Sejam bem vindos. Pelo que vejo, conseguiram cumprir a prova. - a voz de Blue King ecoou.
Chris tomou os crests das mãos de Jill e Wesker, levantando-os, como se levantasse um troféu.
- Aqui estão os seus crests malditos! Está feliz? Minha irmã morreu, seu desgraçado! Ela morreu! Está feliz agora? Responda, seu infeliz! - gritava Chris, com as mãos ensangüentadas erguidas no ar, segurando firmemente os quatro crests.
- Eu sinto muito, Sr. Redfield.
- Vá pro inferno! - gritou, sua voz ecoando por todo o hall, os crests voando de suas mãos, indo parar no chão, quando Chris jogou-os.
- Entendo que esteja nervoso, Sr. Redfield, mas receio que todos vocês precisem descansar antes da próxima prova. Bom descanso.
E o Hall ficou silencioso novamente. Rebecca recolheu os crests do chão, e Jill aproximou-se de Chris, com cautela.
- Vamos. Você precisa mesmo descansar. - disse ela, pegando na mão do rapaz.
Ele já não tinha mais forças para discutir, apenas assentiu com a cabeça, retribuindo o carinho de Jill, segurando firme em sua mão. Os quatro subiram as escadas do Hall, indo para seus quartos, franzindo os olhos ao passagem pelos raios de Sol que já invadiam todas as salas da enorme e sombria mansão. Tinham que descansar, ou pelo menos tentar.
Chris revirava-se na cama, a lembrança de sua irmã não o deixava. E nem queria que a lembrança dela o deixasse. Ele vingaria a morte de Claire, nem que fosse a última coisa que fizesse em vida. Sentia como se uma parte dele tivesse sido arrancada. Era Claire quem estava morta, mas quem se sentia sem vida era ele.

Estou cansado de estar aqui / Dominado por meus medos infantis / E se você tivesse que partir / Eu desejaria que você se fosse / Pois sua presença ainda permanece aqui / E não vai me deixar em paz / Essas feridas não parecem cicatrizar / Essa dor é tão real / Há tantas coisas que o tempo não pode apagar / Quando você chorasse, eu iria enxugar todas suas lágrimas / Quando gritasse, eu enfrentaria todos seus medos / Eu segurei sua mão por todos esses anos / Mas você ainda tem / Tudo de mim / Você costumava me cativar / Com sua vida intensa / Agora estou amarrado à vida que você deixou para trás / Seu rosto assombra / Meus sonhos antes agradáveis / Sua voz afugenta / Toda a minha sanidade / Essas feridas não parecem cicatrizar / Essa dor é tão real / Há tantas coisas que o tempo não pode apagar / Quando você chorasse, eu iria enxugar todas suas lágrimas / Quando gritasse, eu enfrentaria todos seus medos / Eu segurei sua mão por todos esses anos / Mas você ainda tem / Tudo de mim / Eu já tentei de tudo pra dizer a mim mesmo que você se foi / Mas embora você esteja comigo / Eu sempre estive sozinho / Quando você chorasse, eu iria enxugar todas suas lágrimas / Quando gritasse, eu enfrentaria todos seus medos / Eu segurei sua mão por todos esses anos / Mas você ainda tem / Tudo de mim - (Evanescence - My Immortal)

Tenha bons sonhos, se puder... 



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7º Dia  A noite anterior não havia sido fácil para nenhum dos sobreviventes. O soluço de Chris e o som da parede sendo esmurrada ecoava por todos os cômodos. Todos sabiam da dor que ele sentia nesse momento, do vazio, da inevitável sensação...

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Medo








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