A fuga do demônio
Medo

A fuga do demônio



Felizmente, é segunda feira e já me encontro no trabalho. Caminho a passos largos na direção do meu escritório. Entro e, imediatamente, ligo o computador e largo a minha garrafa de café sobre a mesa. Olho pela janela e avisto o primeiro andar da empresa e, com um aceno de cabeça, cumprimento alguns colegas. Posso ver a tela inicial do sistema operacional com o papel de parede sombrio e perturbador desenhado por Suzzan Blac. Com rápidos cliques inicio os programas que uso diariamente. Observo as anotações da semana anterior, derramo um pouco de café dentro da caneca azul e finalmente inicio o navegador de internet, mas algo não está certo: as palavras “servidor não encontrado” aparecem onde deveria aparecer a logomarca do “Google”. Suo frio. Com vigor, pressiono a tecla F5, e nada. Estou sem internet... Nesse momento, ouço uma sinistra gargalhada vinda das profundezas da minha mente. Sinto subir um frio pela espinha. – Estou ferrado. – penso comigo mesmo, ainda teclando repetidamente a maldita tecla. E uma voz conhecida, em tom zombeteiro, diz:



– Hoje você será meu, não adianta querer fugir. – Congelo. Sem internet, ele pode, realmente, conseguir me controlar. O reflexo escuro de minha alma pode, realmente, se colocar no lugar do piloto. Estremeço. Tento me acalmar em vão. Quando o horror toma conta da gente, nada racional pode ser feito para evitar o pior...

Preciso de doses diárias de assuntos sinistros para poder controlar meu lado negro, preciso do mal para acalmar o demônio que habita as profundezas da minha alma. As “creepypastas”, contos de terror, fotos de fantasmas, contos, histórias de “serial killer”, coisas macabras, vídeos fazem minha sombra interior se acalmar, mas preciso fornecer doses generosas de obscuridade. E essas doses têm aumentado cada vez mais, tal como um viciado em “crack”.

Finais de semana são sempre um tormento para mim por que não posso dar ao monstro o seu alimento. Afinal, preciso manter as aparências em relação à minha família, certo? O que eles pensariam se soubessem das coisas que leio e vejo na internet? Eles suspeitariam que algo está errado. Até bem pouco tempo, eu usava filmes de terror para saciar a besta, mas os filmes não surtem mais efeito, “essa droga se tornou fraca”. Desde que o monstro apareceu, não tiro mais férias. No trabalho, eu consigo disfarçar bem, tenho um escritório apenas para mim, onde a privacidade da minha sala me permite alimentar o demônio com total sigilo. Mas, pelo visto, hoje não será assim. Logo hoje, logo segunda-feira, o dia que a sombra parece ter mais força e mais fome. Temo não conseguir controlar a fera, tremo desesperadamente.

Lembro-me do celular e o pego com a intenção de saciar meus desejos via conexão 3G, mas o maldito aparelho exibe na tela, em letras grandes, “SEM ÁREA”.

– Meus “backups”. – Penso, sentindo um alívio interno. Conecto meu “pendrive” com certa dificuldade, errando por diversas vezes o orifício do “USB”. Com o dispositivo reconhecido, acesso, com cliques rápidos e firmes, os conteúdos que acredito que salvarão a mim e as pessoas ao meu redor. Meu triunfo dura apenas o tempo suficiente para eu descobrir que todos os conteúdos salvos já foram lidos, vistos e assistidos, em algum momento. Nem alívio esse material é capaz de me oferecer.

– Maldição! Como pude ser tão burro!? – Grito, atraindo a atenção de alguns colegas da produção da metalúrgica que, agora, encontram-se em silêncio; já é horário de lanche para os operários.

Pego o telefone e ligo para o departamento de comunicações da empresa, eles me informam que já estão procurando pelo problema. Continuo esmurrando o “F5” em vão.

– É perigoso eu continuar aqui. – Falo comigo mesmo, dessa vez, em voz baixa. Decido que o melhor a fazer é sair e procurar uma “lan house”. Não faço ideia, ou melhor, eu faço ideia das atrocidades que posso cometer se “ele” tomar o controle. Levanto-me, mas sinto uma fisgada nas costas e caio contra minha cadeira.

– Você só vai sair daqui quando eu quiser, ou melhor, quando eu estiver no comando.

– Isso, nunca! – Grito contra o demônio que, agora, sorri largamente colocando o dedo na frente da boca, como quem pede silêncio. Ele zomba de mim, posso vê-lo sentado ao meu lado fazendo caretas bizarras. Uma versão minha sem brilho no olhar, com dentes podres e pontiagudos, exalando o mal a cada respiração. Balanço a cabeça com vigor para desfazer a ilusão, mas ele continua lá, me imitando e achando graça dos meus gestos.

Estou preso à minha cadeira e permanecerei sentado aqui o dia inteiro, a menos que eu consiga retomar o controle total. Nisso, o telefone toca. Assusto-me. Do outro lado da linha, o rapaz que me atendera, há pouco tempo, me informa que estamos em meio a um “blackout” geral. Segundo ele, nenhuma cidade do estado possui sinal de internet. Desligo o telefone, suo frio, olho atônito para a tela do computador, sinto o maldito repousar os braços sobre meus ombros, posso sentir o seu bafo podre, quando ele sussurra em meu ouvido.

– Prepare-se, Fernando. Faltam algumas horas, apenas, para a gente sair e se divertir. Hoje, você terá uma longa, deliciosa e alucinante “Noite Sinistra”.

Autor: F.S.G.


A atormentada responsável por corrigir o texto dessa postagem...
Leilane Felgueiras - Estudante de Licenciatura em Letras e Formação de Revisores - Universidade Veiga de Almeida - RJ.
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