Medo
Sociedade secreta Molly Maguires
No final do século 18 início do século 19 nasce uma nova sociedade secreta. Nos EUA ela acaba sendo composta principalmente por mineradores de carvão irlandeses e norte americanos de ascendência irlandesa. O braço dessa sociedade secreta nos EUA funcionava como uma espécie de grupo sindical, que revindicava condições mais humanas para os trabalhadores das minas de carvão na Pensilvânia. Apesar das ideias de justiça muitos protestos organizados pelos "Mollies" acabavam em violência, seja pelas duras repressões, ou mesmo pela forma exaltada de agir por parte dos membros do grupo. Os Molly Maguires já fizeram parte de uma outra postagem aqui do blog Noite Sinistra, intitulada de Marca Fantasma (clique aqui para ler), na qual é abordada a lenda a respeito da morte de um dos membros do grupo.
Molly Maguires na Irlanda
A sociedade secreta Molly Maguires, que muitas vezes usavam como lema "Os homens nascem iguais" originou -se na Irlanda durante o final do século 18 e o início do século 19. Segundo o historiador Kevin Kenny, afirma que os Mollies são muitas vezes associados ao outras sociedades secretas, como os Ribbonmen e a Antiga Ordem de Hibernians (AOH). Ambas sociedades eram grupos fraternais de irlandeses católicos. Muitas pessoas acreditam que Molly Maguires, Ribbonmen e a Antiga Ordem de Hibernians, são nomes diferentes dados a mesma organização.
Na Irlanda tanto os Molly Maguires como os Ribbonmen agiram na rebelião agraria, sendo que os últimos eram extremamente violentos em suas ações. Os Mollies exigiam uma lei justa, que também beneficiasse os pequenos produtores que estavam sendo engolidos por grande latifundiários. Na época era muito comum que grande produtores arrendassem suas terras a famílias de produtores, que após realizarem o plantio muitas vezes eram expulsos das terras, saindo endividados e sem perspectiva de colheita.
Como os Molly Maguires possuíam ligações com grupos católicos, eles frequentemente se viam envolvidos em disputas com fazendeiros protestantes, fossem eles grandes ou pequenos produtores. Há relatos da época que líderes dos Mollies vestiam-se de mulher e solicitavam a comerciantes protestantes doações de grãos, mas caso o comerciante se negasse a realizar a doação, seu comércio seria saqueado pelos demais membros.
Os Mollies em Liverpool
Muitos irlandeses se estabeleceram na cidade inglesa de Liverpool, durante o século 19. A organização foi mencionada pela primeira vez em Liverpool, em um artigo no The Liverpool Mercury (agora o Liverpool Daily Post) jornal em 10 de Maio de 1853. O jornal informou sobre uma briga entre facções Kellys, Fitzpatrick e Murphys de um lado e do Molly Maguires do outro lado. Outros artigos da mesma época do jornal de Liverpool referem-se a agressões violentas feitas por membros Mollies a outras pessoas irlandesas em Liverpool.
A organização chega aos EUA
Alguns historiadores (como Philip Rosen, ex-curador do Museu do Holocausto consciência do Vale do Delaware) acreditam que os imigrantes irlandeses trouxeram uma forma de organização Molly Maguire para a América no século 19, e continuaram suas atividades como uma sociedade secreta. Eles foram localizados em um campos de carvão da Região Carbonífera, que incluiu os municípios da Pensilvânia: Lackawanna, Luzerne, Columbia, Schuylkill, Carbono e Northumberland. Os mineiros irlandeses desta organização passaram a empregar as mesmas táticas de intimidação e violência usadas anteriormente nos conflito de terra na Irlanda, só que agora contra empresas de mineração de carvão duro no século 19.
A realidade da época nas minas de Carvão
Os salários eram baixos, as condições de trabalho eram atrozes, as mortes e ferimentos graves chegavam as centenas a cada ano em cada mina. Em 6 de setembro de 1869, um incêndio na mina de Avondale em Luzerne County, tirou a vida de 110 mineiros de carvão. As famílias culparam a empresa de carvão por não construir uma saída secundária para a mina.
Na época todos os proprietários de minas, sem uma única exceção, haviam se recusado a instalar saídas de emergência, ventilação e sistemas de bombeamento. Apenas em Schuylkill County 566 mineiros foram mortos e 1655 tinham sido gravemente ferido durante um período de sete anos.
Os trabalhadores se queixavam que não receberiam tempo suficiente para almoçar, sendo que muitos deles nem conseguiam terminar suas marmitas de comida fria.
Com a tragédia na mina de Avondale, o chefe da Associação Beneficente do Trabalhadores (WBA), John Siney, subiu em uma carroça para falar com os milhares de garimpeiros que chegaram no local, muitos deles vindo de localidades vizinhas:
Ele pediu aos mineiros para aderir à União, e milhares deles o fizeram naquele dia. Alguns mineiros enfrentaram encargos adicionais de preconceito e perseguição por conta dessa adesão. Na década de 1840, 1850 e 1860, cerca de 20.000 trabalhadores irlandeses tinham chegado em Schuylkill County. Foi um tempo de espancamentos desenfreados e assassinatos no distrito de mineração.
Dentre esse grande grupo de irlandeses que aderiram ao chamado do chefe da associação, muitos tinham em mente os ideias Mollies.
O pânico de 1873
Os anos de 1873 até 1879 foram marcados por uma das piores depressões na história dos EUA, causada pela expansão excessiva da economia, e uma falta de estoque e diminuição na oferta de dinheiro. Por 1877 cerca de um quinto dos operários da nação estava completamente desempregado, dois quintos trabalhavam cerca de seis ou sete meses por ano, e apenas um quinto tinha empregos de tempo integral.
Esse ambiente amplamente desfavorável para todos os EUA, também se mostrou presente no já agitado setor de mineração de carvão. As companhias mineradoras tentavam exigir o máximo possível de seus trabalhadores, muitas vezes fazendo pressão psicológica nos mesmos, afinal haviam muitos desempregados em todo o país, portanto as empresas ameaçavam os mineradores de demissão caso não aceitassem seus termos. Do outro lado os mineradores defendiam que as empresas não poderiam contratar trabalhadores "comuns" para o serviço, e que eles mineradores eram uma classe especializada, portanto merecedora de melhores direitos. Tais discussões acabaram botando mais tensão ao imenso barril de pólvora que a região carvoeira estadunidense havia se tornado.
Dono de minas contra os Mollies
Franklin B. Gowen, o presidente de duas das maiores minas de carvão, e possivelmente o mais importante empresário do ramo no mundo, acabou contratando os serviço da agência de detetive "Allan Pinkerton" para lidar com os Mollies. Pinkerton selecionou James McParland (às vezes chamado McParlan), um nativo de County Armagh, para, disfarçado, se tornar membro dos Mollies. Usando o pseudônimo de "James McKenna," ele conseguiu se tornar um membro de confiança da organização.
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Franklin B. Gowen |
A missão de McParland era reunir evidências de parcelas de assassinato e intrigas, passando esta informação junto ao seu gerente Pinkerton. Essa artimanha visava a eventual detenção e acusação dos membros da Molly Maguire.
O caldeirão continuava a esquentar levando os mineradores a cogitarem uma greve. As autoridades acabaram prendendo muitos membros da Associação do Trabalhadores sob acusação de conspiração. Com toda essa agitação McParland acabou subindo na hierarquia dos Mollies, e acabou tomando conhecimento de eventos que poderiam ser usado contra o grupo. Gomer James, um galês, atirou e feriu um dos Mollies em uma discussão, e os planos dos Mollies foram formulados para uma matança vingança. Mas as rodas de vingança estavam movendo lentamente. Porém essa seria uma boa chance de colocar os líderes do movimento atrás das grades.
Novembro daquele ano foi um mês sangrento para com os mineiros em greve ... Nos três dias em torno de 18 de novembro, um Mollie foi encontrado morto nas ruas de Carbondale, norte de Scranton, um homem teve a garganta cortada, um homem não identificado foi crucificado nos bosques, um chefe de mineração atacado, um homem assassinado em Scranton, e três homens de [outro grupo Molly Maguire] eram culpados de ataque sexual contra uma senhora de idade, e uma tentativa de assassinar um Mollie de nome Dougherty, sendo que Dougherty acabou posteriormente acusado do assassinato de WM Thomas, a quem responsabilizou pela tentativa.
Nessa época os Molly Maguires planejavam destruir parte da estrada de ferro, planos esses que chegaram ao conhecimento da agência de detetive Pinkerton.
Prisões e condenações dos Mollies
Com bases nas investigações realizadas por McParland, doze membros da "Mollies" foram acusados de assassinato, incêndio criminoso, sequestro, conspiração e outros crimes, em parte com base em alegações de Franklin B. Gowen e do testemunho de James McParland. Franklin B. Gowen, o magnata da mineração, foi o promotor de acusação contra o grupo de acusados.
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James McParland |
Em 21 de junho de 1877, seis homens foram enforcados na prisão de Pottsville, e quatro em Mauch Chunk, no Condado de Carbon. Alexander Campbell , John "Jack Yellow" Donahue, Michael J. Doyle e Edward J. Kelly) foram enforcados pelo assassinatos de John P. Jones e Morgan Powell, ambos os chefes das minas.
Outros dez membros da sociedade foram condenados a morte nos dois anos seguintes: Thomas Fisher, John "Black Jack" Kehoe, Patrick Hester, Peter McHugh, Patrick Tully, Peter McManus, Dennis Donnelly, Martin Bergan, James McDonnell e Charles Sharpe, foram enforcados em Mauch Chunk, Pottsville, Bloomsburg e Sunbury. Peter McManus foi o último Molly Maguire julgado e condenado por homicídio no Tribunal do Condado de Northumberland em 1878.
Perdão póstumo
Em 1979, o governador da Pensilvânia Milton Shapp, concedeu o perdão póstumo a João "Black Jack" Kehoe, após uma investigação pelo Conselho de Perdões da Pensilvânia. O pedido de perdão foi feito por um dos descendentes de Kehoe. John Kehoe havia proclamado sua inocência até sua morte. O Conselho recomendou o perdão depois de investigar o julgamento de Kehoe e as circunstâncias que o rodeiam. Shapp elogiou Kehoe e os homens chamados de "Molly Maguire", como "mártires para o trabalho" e heróis na luta para estabelecer uma união e um tratamento justo para os trabalhadores.
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John_Kehoe |
Seriam os Molly Maguires vítimas do magnata da mineração?
Durante as greves de 1871 e 1877 cinco mineiros em greve foram mortos e um número desconhecido de mineiros foram ferido por milícias e vigilantes. No "Massacre Lattimer" dezenove mineiros em greve foram mortos a tiros e até cinquenta feridos. Os sindicatos dos mineiros defenderam oficialmente tais táticas não-violentas como greves e paralisações, embora durante as greves alguns mineiros recorreram a crimes contra a propriedade e as batidas de trabalhadores substitutos.
Atualmente muitos estudiosos afirmam que vários ataques realizados contra membros dos Molly Maguires foram realizados por homens contratados por Franklin B. Gowen. A ideia de Gowen era de forçar os Mollies a reagir e se vingar dos ataques. O caso de Dougherty (citado acima) seria um dos que o ataque inicial teria sido provocado pelos homens de Gowen, Dougherty acabou acreditando que WM Thomas teria tentado matá-lo.
Outro indício de conspiração contra o grupo irlandês era que a maioria das provas, que acusavam os Mollies, usadas no julgamento não haviam sido apresentadas pela polícia, mas sim pelos detetives de Gowen. Sem contar que o próprio Gowen teria feito parte no julgamento como promotor.
Fontes: Murderpedia e Wikipédia
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