Medo
RELATO DOS LEITORES #12
Oie, "oia" eu aqui de novo. Bem, eu disse anteriormente que coisas estranhas acontecem comigo, então decidi compartilhar mais um relato. Isso aconteceu comigo no verão de 1998, na época eu tinha 9 anos. Confesso que demorou um bocadinho de anos pra eu superar mas espero que a galera curta... Costumávamos passar as férias de verão na casa do meu vô. Eu amava muito aquele lugar, meus primos, irmãos e eu passávamos o dia inteiro brincando no quintal, este era imenso cheio de árvores frutíferas, hortaliças, roseiras e um espaço amplo pra se brincar de qualquer coisa. À noite juntava toda a molecada da rua e brincávamos no quarteirão de pega-pega, pique-esconde, carimba...
Numa dessas noites decidimos brincar de pique-esconde. Meu primo mais velho começou a contagem, a galera se espalhou, cada um no seu lugar secreto e eu fiquei que nem barata tonta sem saber pra onde ir, quando nos últimos segundos corri pra casa do meu vô decidida a me esconder no quintal. Eu fui bem lá pro fundo, me agachei atrás de uma goiabeira, do lado tinha umas bananeiras, então ali eu estava bem escondida. Sem falar no escuro, que não tava tão escuro já que dava pra ver algumas coisas nitidamente.
Atrás de mim tinha uma cerca, atrás da cerca outro quintal muito, muito, muito grande cheio de árvores frutíferas de vários tipos.
Voltando aqui. Eu estava lá agachada, com os olhos fechados
(Como se isso pudesse me tornar invisível) quando comecei a ouvir vozes e risadas de crianças, não como aquelas que estavam brincando comigo, mas crianças de uns 2 a 5 anos. Comecei a apertar as minhas pálpebras meu coração disparou a bater bem alto e as crianças começaram a cantar Ciranda, Cirandinha... Eu ouvia perfeitamente aquelas vozezinhas infantis e sons de passos, como se estivessem brincando de roda.
Eu me desesperei, meu corpo ficou quente, tão quente que eu sentia até meus olhos arderem, já minhas mãos ficaram muito geladas e meu coração batia tão alto e aceleradamente que se formava um nó na minha garganta como se ele quisesse sair pela boca. Eu criei coragem, não sei de onde, e abri o olhos... Não tinha nada na minha frente a não ser o pé de goiaba, me inclinei um pouco pro lado e não tinha nada no quintal. Não ouvia mais a canção, somente o barulho dos meus batimentos cardíacos, mas sabia que tinha alguma coisa ali, não no quintal do meu vô e sim no quintal atrás de mim.
Eu juro que não queria olhar, mas sou geminiana e a curiosidade fala mais alto que o medo, fiquei de pé e me virei de uma vez... Não tinha nada, a não ser, mato e árvores. E antes que pudesse surgir alguma coisa eu corri, nem entrei pela porta da cozinha, fui direto a um portão que já dava acesso à calçada. Escalei o portão num desespero que quase despenquei lá de cima. Minha mãe
"tava" sentada numa cadeira na calçada, corri por colo dela, me atraquei no seu pescoço e comecei a chorar como nunca. Ela ficou preocupada e começou a me fazer perguntas, mas eu não conseguia falar nada, só soluçava. Minha tia que estava perto ficou tentando meu acalmar, mas eu só queria o colo da minha mãe...
Depois de um tempo fui ficando mais calma e contei o que tinha acontecido, minha mãe e minha tia ouviram atentamente, mas ficaram caladas, depois me disseram pra nunca mais ir no quintal à noite sozinha e que nada de ruim iria me acontecer.
No outro dia de manhã, eu fui ao quintal, subi no pé de goiaba e fiquei um bom tempo olhando o outro quintal, eu ainda queria entender o que tinha acontecido. Já à noite, estava lá eu entretida brincando de elástico com minha prima e uma amiga quando ouvi o meu nome numa roda de conversa
(Com minha mãe, minhas tias e algumas vizinhas) perto dali. Eu parei a brincadeira e me aproximei pra ouvir a conversa, elas estavam tão envolvidas que nem meu viram.
Minha mãe contava o que tinha acontecido comigo a noite passada, elas ouviram atentamente sem demonstrar surpresa, mas uma surpresa eu tive quando uma das minhas tias começou a falar sobre aquele quintal.
Ela relatou que aquele quintal era tão imenso que ficava nos fundos do quintal de todas as casas daquela rua e que muitas das mulheres que moravam ali, em seu tempo de mocidade, engravidavam sem seus pais saberem e, sem muita alternativa, elas abortavam atirando os fetos e panos sujos de sangue naquele quintal. A minha própria tia, que relatava isso, disse já ter feito isso.
Algumas das moças se arrependiam e entravam nesse quintal sorrateiramente para colocar cruzes, brinquedos e anjinhos de gesso perto do local onde atiravam os vestígios do que poderia se tornar uma criança.
Eu não fiquei espantada com isso, nem sabia o que era aborto, porém me espantei ao saber que todos os vizinhos já ouviram choro, risadas e gritos de crianças vindos do quintal atrás da cerca.
Ass:
Anna
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