O caso Aída Curi
Medo

O caso Aída Curi



Saudações galera atormentada. Na matéria de hoje falaremos do caso Aída Curi, que remete a um dos assassinatos mais marcantes da década de 50 no Brasil. O crime chocou a cidade do Rio de Janeiro na época, e se tornou mais um desses casos em que os envolvidos acabam não pagando devidamente pelo crime que cometeram, a exemplo do caso da menina Araceli (clique AQUI para recordar). Convido a todos a conhecerem mais esse crime cruel cometido no Brasil, que foi uma indicação da amiga Naty de Oliveira Barbosa Pianca.

Caso Aída Curi refere-se à morte de Aída Jacob Curi, de 18 anos (algumas fontes afirmam que ela tinha 23), ocorrido em dia 14 de julho de 1958 no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro.

Aída foi levada à força por Ronaldo Castro e Cássio Murilo ao topo do Edifício Rio Nobre, na Avenida Atlântica, onde os dois rapazes, foram ajudados pelo porteiro Antônio Sousa, a abusar sexualmente da jovem. De acordo com a perícia ela foi submetida a pelo menos trinta minutos de tortura e luta intensa contra os três agressores, até vir a desmaiar. Para encobrir o crime os agressores atiraram a jovem do terraço no décimo segundo andar do prédio tentando simular um suicídio. Aída faleceu em função da queda.

A vitima

Aída Jacob Curi nasceu em Belo Horizonte, 15 de dezembro de 1939, e era a terceira dos cinco filhos de um casal de imigrantes da Síria, Gattás Assad Curi e Jamila Jacob Curi. Aos cinco anos, Aída perdeu seu pai e sua mãe, Jamila, mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a trabalhar.

Jamila Jacob Curi
Aos seis anos, Aída foi encaminhada para estudar num colégio de freiras espanholas, da congregação Filhas de São José,o Educandário Gonçalves de Araújo, um colégio interno para meninas órfãs, em São Cristóvão. Ela estudou ali nos doze anos seguintes. Passado esse período, a jovem deixou o Educandário para começar a vida fora dali. Na época de sua morte, Aída fazia cursos de datilografia, inglês e português, e trabalhava na loja do irmão.

O crime

No dia 14 de julho de 1958, após a aula do curso de datilografia na Escola Remington da rua Miguel Lemos em Copacabana, Aída sai em companhia de uma colega de curso, Ione Arruda Gomes, como em outras vezes. Rumaram ao ponto do ônibus, quando ambas foram abordadas por rapazes que costumavam se reunir próximo à rua do curso. Quando deixaram cair algumas chaves, foi perguntado pelos rapazes Ronaldo Castro, 19 anos, Cássio Murilo, 17, e o porteiro Antônio Sousa, 27, se o objeto era de alguma delas, aproveitando para iniciar um diálogo, tendo recebido de Aída uma resposta ríspida de que não queria conversar.


Algumas fontes afirmam que as chaves eram dos próprios jovens, eles teriam usado o artifício para chamar a atenção das duas jovens, o que indicaria que eles poderiam ter premeditado a ação.

Irritados, os jovens tomaram dela sua caixa de óculos e sua bolsa, onde tinha o dinheiro de sua condução para voltar a sua residência. Relata-se ainda, conforme versão publicada pela família, que um rapaz do grupo dizia que lhe devolveria os objetos se ela desse um beijo, ao passo que Aída foi clara ao dizer que não. Segundo um dos presentes “Não deu, nem quis dar o beijo pedido”. Aída na tentativa de recuperar os objetos dela retirados (como dinheiro para poder voltar para casa), foi atrás dos rapazes, sendo que ao entrar na recepção do prédio onde foram se esconder, foi puxada à força para dentro do elevador. Aos berros o grupo de agressores e a vítima chegaram ao topo do prédio. Um jornal da época, noticiou que foi num apartamento do décimo segundo andar, ainda em fase de acabamento, que ocorreu a luta dos agressores para a imobilização de Aída. Ronaldo e Cássio foram ajudados pelo porteiro do prédio, Antônio.

Durante trinta minutos, a jovem foi espancada com grande violência, além dos agressores tentarem estuprá-la. A vítima teria caído desmaiada por causa da exaustão física. Seu corpo jogado do terraço, afim de simular o suicídio da vítima.


De acordo com as primeiras notícias do jornal carioca "O Globo" no dia l6 de julho de 1958, foi dentro do apartamento 1201, em construção, cheio de entulhos e às escuras, com o piso ainda não taqueado, que Aída continuou a se defender das investidas de dois ou três agressores, tendo ela mesmo num primeiro momento tropeçado nas peças de madeira (esquadrias).

Em razão da queda, bem como por causa do stress corporal em razão da luta para se desvencilhar dos agressores, Aída teria perdido os sentidos. Seu corpo é transportado ao terraço através de uma escada em forma de caracol, sendo colocada sobre o peitoril lançada ao chão da Avenida Atlântica. Um fato curioso é que logo após o corpo tocar o solo, foi visto ao lado da vítima sua bolsa, o caderno e o livro que lhe pertenciam, mas que foram roubados no ponto de ônibus.

Relata-se que poucas foram as palavras proferidas por Aída durante a luta, tendo ela tido apenas: “Deixem-me ir embora” e “Eu sou virgem”.

No dia seguinte ao crime, na sede do IML do Rio de Janeiro, o cadáver foi submetido a análises para verificar se havia ocorrido violação sexual. Em primeiro de agosto o laudo concluiu que não havia qualquer vestígio de espermatozoides na vítima. Aída morreu virgem. A defesa tentou arrebatar a honra e a moral de Aída, tendo inclusive alegado que havia entorpecente no caso, pois existiam bocas de fumo próximo ao local do crime.

Teria sido um caso de suicídio caso a imprensa não tivesse se interessado e pressionado tanto a Polícia e a Perícia Criminal para uma melhor investigação. Dentre as dúvidas, questionava-se a razão da perícia ser avisada somente três horas após o crime, levantando a suposição de que o corpo e a cena do crime podiam ter sofrido alterações, com o objetivo de despistar a polícia e fazer crer que a única versão do crime era de um suicídio.

Todavia, desde o início a Perícia Criminal descartou a hipótese de suicídio, cabendo inicialmente ao perito Seraphim da Silva Pimentel este trabalho. Após observar o corpo, verificou que a vítima tinha sido brutalmente ferida, inclusive com as vestes rasgada, marcas e contusões em seu corpo provocadas por objeto contundente (foi recolhido durante as investigações um anel com a efígie de São Jorge usado por um dos acusados), o ferimento causado por um soco inglês e ferimentos profundos no seio podendo ser provocados por unhas ou dentes (perícia jamais concluída). O trabalho perito foi responsável também pela prisão do porteiro do Edifício Rio Nobre, Antônio João de Souza. Mais tarde, relata a família da vítima, este perito seria afastado do processo e substituído por alguém ligado à família de um dos acusados.

O laudo dizia: “escoriações e equimoses provocadas por unhadas e socos. No peito, no lado esquerdo, aparecem sinais de profundas unhadas. Arranhões nas coxas, ventre, pescoço e equimoses no abdômen. Houve ruptura interna do lábio superior devido a um soco. Tentativas de estrangulamento. Sinais de bofetão no queixo. Marcas nos braços, antebraços, punhos e dorso das mãos (significando ‘ferimentos de defesa’). Algumas marcas no tórax que podiam ser conseqüência de mordida”. E concluiu dizendo que: “Aída, desfalecida, foi atirada, e parte das escoriações foram produzidas por atrito do corpo nas arestas e bordas do parapeito do terraço”. Com esse laudo, cada vez com mais ferocidade a imprensa agia.

A Justiça decretou a prisão preventiva dos três acusados por meio do juiz Astério Aprígio Machado de Melo. Para tentar elucidar algumas situações que ficaram divergentes, a polícia realizou então a reconstituição do crime, a qual necessitou uma grande escolta policial em razão da comoção social causada e da intenção de linchamento dos acusados. O que se viu durante a reconstituição foi um festival de acusações, cada um querendo livrar sua cara. Em determinado momento, Ronaldo disse ao suposto cúmplice: “Você, Cássio, não sente o crime que cometeu aqui mesmo neste local, porque você não é humano e não pode ter remorso”. No entanto, todos percebiam que Ronaldo era um exibicionista, enquanto Cássio era frio durante os fatos expostos. Os jovens e o porteiro foram denunciados por homicídio doloso, tentativa de estupro e atentado violento ao pudor.

Os agressores

Ronaldo Guilherme de Souza Castro: natural do Espírito Santo, morava e estudava no Rio de Janeiro, tinha 19 anos na época do crime. Pertencia a uma boa e tradicional família. Tinha má fama na vizinhança e na escola. Sempre foi mau aluno, tirava notas baixíssimas, foi reprovado nos colégios. Fora expulso de colégios, acusado de diversas agressões e de ter participado do roubo de um carro pertencente à Secretaria de Agricultura. Também fora preso por indisciplina quando servira no Exército e coisas semelhantes. Uma prima de Ronaldo, Mariza Eneider Castro contou que o jovem era um tarado, que a fez passar por vexames várias vezes e que, além de tudo, é ladrão. Desconsiderando os roubos em família, é autor de furto de joias e dinheiro numa pensão na lagoa Rodrigo de Freitas. O crime foi descoberto, mas o dinheiro de seu pai silenciou a Polícia e indenizou as vítimas. A moça disse que certa vez, em Vitória, Espírito Santo, o primo tentou entregá-la por 20 mil cruzeiros a um sujeito conhecido por “Mãozinha”. Dez mil cruzeiros seriam para ele, Ronaldo Castro, os outros dez para ela. Afirmou também que o pai do primo encobria as mil e uma besteiras do filho delinquente através de subornos. Mariza contou ainda que se sentia culpada por não haver revelado os fatos antes e que só manteve sigilo a pedido dos pais de Ronaldo.


Cássio Murilo Ferreira: Era sobrinho do síndico do prédio. Já tinha sido expulso do Ginásio do Alferes por mau comportamento, também fora expulso de outro colégio por tentar levantar as saias das garotas e já teria arrombado a porta de um prédio vizinho ao que morava para roubar uma lambreta. O jovem era menor de idade na época do crime, tinha apenas 17 anos.


Antônio João de Sousa: era o porteiro do Edifício Rio-Nobre, onde ocorreu o crime. Pouco se falou sobre sua vida.


Tentativa de manipular as investigações

Além da tentativa de maquiar as agressões contra Aida como suicídio, e manipular a cena do crime, foi alegado que o pai de Ronaldo, teria usado de influência durante o processo como forma de tentar livrar o filho das acusações.

O pai de Ronaldo, Edgard Castro, teria contratado uma jovem chamada Zilza Maria Fonseca, para servir de álibi do filho. Ela disse que conversava com Ronaldo num banco da Avenida Atlântica, quando Aída foi jogada. Porém a moça contratada não compareceu ao Tribunal para o julgamento. Ao invés dela, a defesa preferiu levar outra testemunha: Lecy Gomes Lopes, que afirma ter visto Zilza com Ronaldo à hora do crime. Levando a sociedade a questionar: “Por que em vez de Zilza trouxeram a mulher que ‘viu’ a Zilza?” Segundo a revista O Cruzeiro, o depoimento de Ronaldo e o de Lecy se contradizem. Ela afirmou que passeava com a sua filha e a empregada, se sentou num banco da Avenida Atlântica, defronte à Rua Djalma Ulrich, onde já se encontrava um casal, Ronaldo Castro e Zilza Maria Fonseca. Já Ronaldo, afirmou em seu depoimento que passeava com Zilza pela praia, e, que ao chegarem os dois ao tal banco, já se encontrava lá uma senhora, uma moça e uma criança de três anos.


Além do mais, Lecy descreve Zilza como loira, mas ela é morena. Ela também afirmou que Zilda cantava uma canção de Maysa, que falava muito em “você”. A canção seria “Por causa de você” que Maysa só gravou em 1959, depois do crime.

Os julgamentos

Houve três julgamentos.

No primeiro julgamento de Ronaldo Castro ele foi condenado a 37 anos e meio de prisão, 25 anos pela morte de Aída, o restante por atentado violento ao pudor e tentativa de estupro. O porteiro Antônio Sousa foi condenado a 30 anos e Cássio, considerado como o verdadeiro assassino, não pôde ser julgado por ser menor de idade.


A defesa recorreu e conseguiu um segundo julgamento que aconteceu um março de 1959. Durante o novo julgamento de Ronaldo, o advogado Romeiro Neto questionou o médico-legista, Mário Martins Rodrigues, quanto a certas lesões encontradas nos seios de Aída Cúri. Queria saber eram marcas de dente ou não. Como na época surgiram dúvidas, foi chamado o Prof. Raimundo Rodrigues, perito-odontólogo da Faculdade Nacional de Odontologia, que fez os exames nas lesões suspeitas, tirou modelos em gesso dos ferimentos e fez os estudos técnicos periciais necessários. Concluídas as provas em gesso, o perito odontologista passou à segunda fase do processo: examinar as arcadas dentárias dos acusados. A pedido do Juiz de Menores, Cássio foi examinado nos laboratórios da própria Faculdade Nacional de Odontologia, e o exame comprovou o menor delinquente não era o autor das dentadas no busto de Aída. Cássio Murilo era inocente no caso das dentadas. Restava ao perito examinar as arcadas de Ronaldo Castro e as do porteiro Antônio Sousa. Porém, essa perícia foi interrompida por ordem deliberada do juiz Souza Netto. Quando questionado o juiz afirmou que se Ronaldo se deixou o edifício às 20:15h, conforme prova testemunhal incontroversa existente nos autos, não interessava para o julgamento do mesmo fazer esses exames, porque estava provado pelo depoimento das testemunhas, que ele apenas deu um tapa em Aída, não lhe arranhou com as unhas, não lhe deu dentadas e não a jogou do alto do edifício.


Ronaldo foi absolvido da acusação de homicídio e ficando apenas com a pena pelos outros dois crimes. O júri julgou que o único responsável pela morte da vítima era Cássio eximindo de culpa também o porteiro. Por ser menor e inimputável, Cássio Murilo foi encaminhado ao Sistema de Assistência ao Menor (SAM), de onde saiu direto para prestar o serviço militar. Alguns anos depois, ele foi acusado de matar um vigia de automóveis. Fugiu para o exterior até que a pena pelo assassinato fosse prescrita.

Houve ainda um terceiro julgamento onde, Ronaldo foi julgado por homicídio simples e tentativa de estupro e condenado à pena de seis anos de reclusão. Após recorrer da sentença, o promotor Pedro Henrique Miranda conseguiu que a pena fosse aumentada para oito anos e nove meses. Depois de cumprir a pena, Ronaldo foi solto. Mais tarde se tornaria empresário em seu estado, o Espírito Santo.

Libertação de Ronaldo
Agradecimentos a amiga Naty de Oliveira Barbosa Pianca pela dica desse curioso assunto.

Fontes: Justificando, Copacabana e Wikipédia

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