Medo
O antigo e estranho caso das pegadas do diabo
Belzebú e a ilustração misteriosa de 1855.
Na noite de 8 para 9 de fevereiro de 1855, num dos Invernos mais frios de que havia memória os habitantes do condado de Devon Inglaterra, acordaram para um cenário no mínimo bizarro.
Um rasto de pegadas de um animal com cascos, estendia-se por várias milhas. Foram avistadas em mais de 30 localidades diferentes, de tal forma que, assumindo que as marcas foram feitas por uma única criatura, a mesma teria de ter percorrido uma distância calculada entre 65 a 160 quilômetros numa única noite.
Para além da extensão, outras singularidades acompanhavam as pegadas. As mesmas pareciam ter sido feitas por uma criatura bípede e não quadrúpede, como seria de esperar se fosse um animal. Para, além disso, as marcas formavam quase uma linha única, em vez de surgirem alternadamente à direita e à esquerda. E para acrescentar ainda mais ao mistério, as pegadas pareciam por vezes descrever padrões impossíveis. Acabavam junto de muros altíssimos e montes de feno, e apareciam do outro lado dos mesmos, como se a criatura tivesse simplesmente pulado sobre eles. Apareciam do nada no meio dos campos e terminavam abruptamente, dando a entender que o autor das pegadas tinha simplesmente aterrado e em seguida levantado vôo. Foram também reportadas várias pegadas em cima de telhados e nos parapeitos de janelas.
Como é óbvio, não tardou muito para que as pessoas atribuíssem as pegadas ao próprio Diabo. Mas será que o anjo caído andou mesmo pelos campos de Devon? Vamos começar por tentar perceber se existem ainda fontes diretas do fenômeno, ou seja, manuscritos originais ou outros documentos pertencentes a testemunhas presenciais.
Desenho feito por uma das testemunhas do evento, publicada pelo The Illustrated London News, em 24 de Fevereiro de 1855.
A bonita igreja paroquial de Clyst St. George teve como reitor o Reverendo Henry Thomas Ellacombe, um campanólogo de elevado mérito e também um reconhecido botânico. Diz-se inclusivamente que nos jardins da reitoria, o fantasma do Reverendo com a sua longa batina preta, ainda é por vezes avistado vagueando por entre as suas plantas... O motivo pelo qual menciono o Reverendo Ellacombe, prende-se com o fato de a ele pertencerem os únicos documentos originais e contemporâneos do enigma das Pegadas do Diabo. São constituídos por cartas, desenhos das marcas, menções a relatos de testemunhas e mesmo algumas observações curiosas feitas pelo reverendo, como por exemplo o fato do seu cão ter ladrado continuamente na noite em que apareceram as supostas pegadas sobrenaturais. Para além destes documentos, as restantes fontes em primeira mão dos acontecimentos, resumem-se às cartas remetidas por testemunhas ao Illustrated London News, e publicadas na íntegra.
Igreja paroquial de Clyst St. George.
Assim informou o The Times, de Londres, em 16 de fevereiro de 1855:
...Na quinta-feira à noite, ao que parece, houve uma forte nevasca nas proximidades de Exeter e no sul de Devon. Na manhã seguinte os habitantes dessas cidades ficaram surpresos ao descobrirem as pegadas de um animal estranho, misterioso e onipresente, pois as pegadas foram vistas nos lugares mais inacessíveis – nos telhados, em corredores estreitos, em jardins e quintais fechados com cercas e muros altos, bem como nos campos ao ar livre. Pareciam mais de um bípede do que de um quadrúpede e distanciavam-se 20cm umas das outras. As impressões das patas lembravam muito uma ferradura de burro e tinham de 3,5 a 6,5 cm de largura em certos casos. Às vezes pareciam estar rachadas, mas na maioria dos passos a ferradura persistia e, como a neve no centro estava intacta, mostrando apenas o contorno da pata, deveria ser convexa [ côncava ? ]"... O outro, e único, exemplo conhecido de pegadas assim foi informado pelo capitão sir James Clark Ross, comandante de dois navios que exploravam as regiões do Pólo Sul e atracaram na Ilha Kerguelen em maio de 1840: ..."animais de terra, não vimos nenhum, e os únicos indícios que vimos de sua existência na ilha foram algumas pegadas singulares de um pônei ou jumento, tinham 7,5 cm de comprimento e 6,2 cm de largura, com uma pequena depressão mais funda em cada lado, além da forma de ferradura"... Se o tivessem enxergado, o que teriam visto?
De acordo com relatos contemporâneos, que se estendia por mais de uma centena de quilômetros, e foi através de paredes sólidas e palheiros, aparecendo do outro lado como se não houvesse nenhuma barreira. A extensão das pegadas pode ter sido exagerada no momento. Mas na verdade as 'pegadas', se é isso que estavam ali, ainda permanecem um mistério completo.Um dos primeiros a ver as marcas foi um padeiro e depois o diretor da escola, o qual reuniu um grupo de pessoas para seguirem essas marcas. Qual não foi a surpresa quando perceberam que o animal havia pulado também muros que variavam de quatro a seis metros de altura e também atravessou o rio Exe, deixando a marca de uma margem à outra como se tivesse caminhado sobre a água, sendo que esse rio possui três quilômetros de largura. E assim percorreu entorno de 150 quilômetros, passando por Exmouth, Lympstone, Woodbury, Powderham, e vários outros lugares, apenas em uma noite. Apenas em uma noite Cornwal ficou marcada com essas pegadas.
Vários animais foram sugeridos para fazer as pegadas como:guaxinins, ratos, cisnes, lontras. Alguns cangurus haviam escapado de um zoológico particular pertencente a um deputado de Fische em Sidmouth, mas a descrição das pegadas não tem qualquer semelhança com as de um canguru. Além de tudo estes animais não seriam capazes de pular 6 metros de altura para pular um muro ou atravessar um rio de cerca de 3km de largura. As marcas eram em forma de U, com 10cm de comprimento e 7 cm de largura, e com 20cm distantes uma da outra.Também foi observado que a forma em que foram estabelecidas, uma na frente da outra, sugere um bípede ao invés de uma criatura andando sobre quatro patas. Há casos semelhantes espalhados por outras partes do mundo e também conta um escrito na Grã-Bretanha.
Segundo Ralph de Coggeshall, (que também gravou vários estranhos fenômenos em sua época) é um escritor do século 13, em 19 de julho de 1205 relatou impressões estranhas que apareceram depois de uma violenta tempestade elétrica (seria uma coincidência? Dizem que grandes demônios quando chegam a um local causam tempestades elétricas...). Em meados de julho essa faixa só seria visível na terra fofa, e as tempestades com descargas elétricas sugerem algum tipo de fenômeno natural ainda desconhecido.
As Pegadas do Diabo.
Em 1950, essas pegadas surgiram novamente em Devonshire.
Em 14 de março, o jornal The Times publicou a aparição dessas pegadas em Glenorchy, Escocia, que se estendiam por quilometros.
Pouco a pouco foram surgindo histórias de pegadas em vários lugares: Nova Zelandia em 1886, nas praias de Nova Jersey, nos Estados Unidos, em 1908, na Bélgica, em 1945, nas encostas do vulcão Etna, Sicilia, em 1970.
Pegadas do diabo continuam a ser um intrigante mistério que só será realmente resolvido se o fenômeno volte a acontecer e pode ser examinado mais de perto, o que não foi, pois na noite de 12 de março de 2009, apareceram novamente marcas semelhantes, como as da foto.
As Pegadas do Diabo em 2009.
O esquisito é que quando apareciam obstáculos no caminho, por exemplo uma casa, o suposto diabo saltava/voava para o telhado e continuava o seu caminho. O mais estranho é que se fosse um animal de cascos como um cavalo ou uma cabra deixaria fezes, não agüentaria caminhar 160 km em linha reta durante uma tempestade e não conseguiria saltar obstáculos tão altos.
Fonte: Livro Lendas Urbanas
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