Medo
Creepypasta: Doll Maker
Olá galera atormentada. Hoje trago a vocês uma creepy escrita pelo
Marcelo Freitas Ferrari, que é primo de um velho conhecido nosso
Flavio Augusto Freitas, que já participou do blog enviando sugestões de postagens como A lenda da Salamanca do Jarau
e
O massacre dos Muckers e as assombrações do morro Ferrabraz. O
Flavio intermediou e viabilizou a publicação da creepypasta abaixo. Já o
Marcelo é um jovem escritor que escolheu a literatura de terror como nicho. Convido a todos a conhecer a história escrita pelo nosso estimado amigo
Marcelo...Aproveitem!!
Creepypsata: Doll Maker
Era mais um ano miserável para mim e para minha família, quando nessa época eu ainda tinha um nome… Hoje não me lembro nem de meu próprio rosto.
Recordo-me de ver minha mãe chorando na cozinha; meu pai estava contando o dinheiro que ganhara do Homem Alto- este que sorriu estranho para mim, conduzindo seu olhar sobre meu corpo após me chamar de “boneca”. Eu não havia entendido nada naquela época.
Se não me engano, acho que estava há poucos dias de fazer meu décimo primeiro aniversário… mas isso é um fato irrelevante.
Acontece que, naquele ano, eu estaria prestes a perder minha dignidade, minha identidade, minha liberdade, e outras coisas que literalmente não usaria mais.
Pois bem, naquele mesmo dia o homem alto disse a mim que iriamos ao parque. Achei estranho mamãe não teria permitido, sequer eu havia feito a lição de casa…
No final, tudo foi muito rápido ao posterior do acaso; eu já estaria no carro do estranho homem, longe de casa. Ao que, o mesmo me oferecera um pacote de balas… Seria minha última vez a ver a luz do sol.
“Está pronta, minha pequena boneca?” Disse ele. Enquanto aos poucos eu retomava a consciência, voltando a enxergar o que se passava mas impossibilitada de me mover.
“Temos muito trabalho a fazer agora!” Dissera ele novamente com aquele estranho sorriso (como quando me chamou de boneca pela primeira vez) explicitamente cheio de intenções.
Logo, pude concluir que meus braços e pernas estavam fortemente amarrados. Um frio em minha espinha me roubava o folego; estava nua em uma cama de ferro.
Meu coração disparou e eu comecei a entrar em pânico… Os gritos se prendiam em minha garganta, entrelaçados em soluços. Afogava-me em meio ao choro, com espasmos que por segundos me sufocavam.
Meu corpo reagia por si próprio, debatendo-se sobre a cama fria, sentindo um contraste térmico de lágrimas quentes que escorriam pelo meu rosto enquanto o homem bufava entre minhas pernas.
Enquanto eu era abusada, não podia gritar, não podia fugir e tampouco tinha a ousadia de xingar.
Eu estava só; não havia família, não havia amigos, não havia ajuda. Eu teria que suportar sozinha, totalmente vulnerável mediante as circunstâncias, naquela escura sala malcheirosa.
O que seria de mim?
Na verdade, eu não fazia ideia de aquilo era só o inicio de meu verdadeiro tormento, afinal, descobriria que o inferno não requer uma alma pecaminosa e que a morte poderia ser o melhor dos privilégios.
Eu entenderia -até certo ponto- com o passar de semanas, meses e anos (na verdade, hoje não sei mais qual é a minha idade)… enfim, começaria a compreender o significado da frase “temos muito trabalho a fazer” que o homem alto dissera. Ficaria a mesma ecoando eternamente em minha mente, outrora, por ser uma das últimas frases que ouvi em minha vida, antes de me ser estourado os tímpanos com uma máquina aspiratória… Pude sentir a dor aguda penetrar meu crânio subitamente, viajando sobre meus nervos juntamente dos fluídos que me eram expurgados para fora dos ouvidos.
No ápice, tomei coragem para xingá-lo… (por ironia) senti minha garganta vibrar e meu peito arfar mil insultos; certamente estava gritando como nunca, mas lógico, antes que percebesse já não podia mais ouvir a melancolia de meus brados dilacerarem minhas cordas vocais.
Na mesma noite eu seria limpada cuidadosamente, para que não apodrecesse em meio as próprias fezes. Logo após eu fui jogada às escuras por tempo suficiente… ao menos para criar uma expectativa corrosiva de que o “trabalho” do homem estava apenas começando. Quisera eu estar errada.
Eu passava eternidades trancada na sala soturna. Meu consolo era o escuro, minha rotina a tortura.
Mentalizava minhas preces não correspondidas; meu temor era que as luzes fossem acesas novamente, prenunciando o retorno “dele”, cuja presença era sinônimo de pesadelos, pânico e dor:
Por algum tempo, minha visão fora poupada. Era proposital para que eu visse e entendesse -o que ele fazia, o que ele queria me ensinar… de certo, eu seria nada mais além do que um objeto pelo resto de meus dias.
Com um espelho posto diante de mim, minha visão fora poupada para que eu pudesse presenciar as mais diversas brutalidades que meu corpo sofreria além:
Vi objetos me penetrarem para causar dor e humilhação.
Vi meus dentes serem arrancados um a um com um alicate, para depois serem substituídos por outros de borracha…
Eu estava aprendendo a conviver com a dor, mas quando tornava a chorar no conforto da solidão, me perguntava “por quê?”… Por que eu tinha que passar por isso?
Cheguei ao limite quando meus braços e pernas foram amputados, achei que finalmente morreria pela quantidade de sangue perdi; minha vista foi se apagando lentamente, eu agradecia a Deus por aquilo acabar ali.
Pude sonhar novamente, sonhar como há muito tempo não conseguia. Pude ver a luz do sol, calorosa e agradável. Por um mero instante estava em paz, ao menos até perceber que não estava morta, e que o sol que brilhava sobre mim era na verdade um enorme holofote de frente para o meu rosto. Notei, que meus membros estavam em seus lugares,mas não podia senti-los.
Quando acordei percebi o que aquilo significava então: Braços e pernas de borracha, assim como os dentes…
O homem me levou para um lugar diferente (finalmente), onde não haviam serras, agulhas, ou holofotes para me cegar… Nenhum objeto me violava dessa vez.
Era estranho, eu já estava tão acostumada com a dor, mas dessa vez era somente água morna que escorria pelo meu corpo… não lembrava mais como era tal sensação.
Passado o momento, fui vestida e colocada em um cômodo diferente.
Já não enxergava direito, mas pude ver que o homem alto falava com outra pessoa e… foi a mesma história de tempos atrás, quando minha família me vendeu por uns trocados, mas dessa vez o velho estranho trazia consigo uma maleta de dinheiro... Eu estava sendo comprada novamente.
Mas por quê?
Era isso o que eu havia me tornado? Um objeto, uma boneca de verdade?
Hoje não me restam mais sentidos, com exceção do tato (infelizmente).
Sou como um vegetal, mas ainda penso e sinto, tampouco meu “dono” se importa com isso. Sirvo apenas para ser usada; para ser abusada e torturada… foi para isso que fui treinada; para proporcionar prazer e satisfazer os desejos mais obscenos e profanos do ser humano.
Infelizmente morrer não está em minhas mãos, embora eu continue rezando a cada segundo para que isso aconteça.
Autor: Marcelo Freitas Ferrari
Agradecimentos aos amigos Marcelo e Flavio, pelo material compartilhado. Convido a todos a participarem via comentários.
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