Medo
Contos bizarros: Parte 3 - O poder da mente
A terceira e última parte do nosso conto bizarro!
Horas depois, acordei em um quarto no hospital. Estava em observação médica e fiquei preocupada. Não lembrava quase nada da cirurgia que deveria ser um sucesso. Minha enfermeira de confiança aproximou-se de minha cama e contou-me tudo, inclusive a hora da morte do paciente.
Cai aos prantos, desolada, pois pressentia que algo muito importante em minha vida mudaria. Tentaram me consolar, mas parecia ser impossível. Chorei até pegar no sono. E estranhamente não fiquei completamente inconsciente. Poderia me mover para onde eu quisesse. Minha alma saiu de meu corpo e andou pelo hospital.
Andei por horas, cruzei com pessoas estranhas, e uma energia forte me puxava para elas, para fazer coisas ruins. Entrei na pediatria e meu filho estava lá. Saudosa, eu corri ao seu encontro e o abracei bem forte. Toda vez que o abraçava, e tentava niná-lo para que se acalmasse mais ele chorava e mais forte eu me sentia. Devolvi-o ao berço e corri pelos corredores. Corri para longe, sem rumo. Pareceram quilômetros até eu encontrar meu quarto novamente para retornar ao meu corpo.
“Ele dizia que eu havia lhe dado a vida com a morte”
Quando cruzei a porta de entrada, o paciente que havia morrido em minhas mãos na última cirurgia me impediu. Assustei e recoei completamente meu corpo para longe dele, que estava agradecido. Eu não consegui sentir raiva, e aquele clima pesado que existia quando estava próxima, haviam sumido. Ele estava calmo, tranquilo, sorrindo em minha direção.
Comecei ouvir sua voz. Sua boca não se mexia. Ele dizia que eu havia lhe dado a vida com a morte. E que estava grato! Mas que isso teria consequências para mim e ele queria que eu soubesse sobreviver com isso. Afirmou que eu aprenderia. Após dizer tudo isso, ele sumiu e eu voltei ao meu corpo. Sentia-me recuperada completamente. Tive alta por não demonstrar mais nenhum vestígio de fraqueza. Fui para casa de minha mãe que havia me ligado inúmeras vezes há poucos instantes.
“Seu rosto estava mostrando dores, mas estava em silêncio”
Meu filho estava muito fraco, segundo minha mãe. E assustou-se quando aproximei dele, recusando vir para os meus braços. Ela cuidou dele ternamente já que havia me recusado. Antes de ele adormecer, ficou bem próximo de mim. Me olhava fixamente. Eu não entendia tal reação, e principalmente como um bebê poderia ter um olhar tão intenso.
Peguei no sono logo depois dele, e sonhei. Sonhei com ele novamente, e ele chorava. Mas desejei profundamente que ele parasse, e ele parou. Seu rosto estava mostrando dores, mas estava em silêncio. Eu o abracei, brinquei com ele, mas nada o fazia sorrir. Cada vez me sentia mais feliz, mesmo com ele agindo estranhamente.
“Tentei ajudá-la e ele novamente recusou-me por perto”
Acordei no meio da noite com minha mãe embalando o sono dele, dizendo que ele estava com febre, e levemente amarelado. Que recusava se alimentar e quase não tinha força nos dedos para segurar-se nela, como sempre fazia. Tentei ajudá-la e ele novamente recusou-me por perto, mesmo adormecido. Sentindo rejeitada, fui para o quarto de hóspedes e novamente sonhei com ele. Ainda mais calado, mais amedrontado.
Na manhã do dia seguinte, no quarto de meu lindo bebê, minha mãe havia adormecido com ele nos braços. A cada vez que eu sonhava com ele, me sentia melhor, porém ele ia ficando sempre mais fraco, e me rejeitava. E era automático encontrá-lo em meus sonhos assim que fechava os olhos. Ele era a pessoa que eu mais amava, mas não sonhava freqüentemente com ele, não a ponto de lembrar detalhes no dia seguinte.
Por instantes, sentei no sofá e percebi que cada vez que sonho, mais o enfraqueço. Como me aconteceu antes da cirurgia. Sendo assim, não posso mais dormir, não é possível viver. Por amor. A minha vida, ao meu filho. Não vivi mais.
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