Medo
A escuridão e a morte
A pobre garota andava sozinha pela rua de dia e de noite, como se ninguém a visse, mas um garoto percebeu e passou a observá-la todos os dias, era uma garota muito bonita, loira e de pele clara. A cidade era sempre nublada, pois ficava no topo da serra, o garoto acompanhava de longe a garota pela cidade toda.
Um dia o jovem enfrentou seu medo e decidiu ir falar com a bela garota, com a voz tremula e muito nervosismo ele parou na frente dela e disse que parasse, sua voz tremeu um pouco e finalmente perguntou:
– Olá, qual o seu nome?
– Meu nome é importante? – a jovem responde com outra pergunta e sai andando como se nada tivesse ocorrido.
Nos dias que se seguem o jovem fica confuso, mas continua a seguir a menina, apesar de um estranho sentimento de sua voz ser assustadora. Na verdade a voz da jovem foi doce a calma, porém deixou um estranho medo no garoto. Uma semana após o ocorrido ele decide falar novamente com a garota
–Qual o seu nome? – ele pergunta dessa vez com uma voz forte e corajosa. Dessa vez e a jovem responde com a mesma pergunta
–Meu nome é importante?
–Sim – ele responde, mas seu nervosismo da primeira vez estava de volta. – quero saber o nome da garota mais bela do mundo.
– Eu não sou a mais bela do mundo, não sou nem uma pessoa. – ela responde deixando ele ainda mais nervoso.
–Então o que é você?
–Posso ser um anjo, ou um demônio, também posso ser um fantasma ou quem sabe eu nem exista. O que você acha que eu sou? Acha mesmo que sou a mais bela do mundo se nem sabe o que sou? Garanto-lhe uma coisa não sou uma garota comum. – após isso ela foi embora andando novamente como se nada tivesse ocorrido e o garoto ficou lá imóvel por alguns minutos antes de finalmente ir embora.
Em casa sua mente não parava de pensar no que a garota havia lhe dito mais cedo, antes de dormir o jovem, como sempre ligou o computador e viram às fotos de sua mãe que morava longe afinal seu pai havia sido assassinado há muito tempo e sua mãe ficara louca e o deixará sozinho e emancipado. Ele raramente comia algo que não fosse pré-pronto, hoje não havia sido exceção, após comer escovou os dentes e se deitou, mas não conseguiu dormir e ficou olhando pela janela, até que em um momento ele viu jovem parar e olhar para ele, seu coração acelerou e eles se encararam por menos de um minuto, até que de súbito o jovem caiu no sono.
Na manhã seguinte era a sua ultima semana de férias, era inverno e a cidade estava mais fria que o de costume, o garoto se agasalhou bem antes de sair, decidiu não seguir a garota dessa vez, Fo até a padaria tomar o café da manhã e depois foi na praça da cidade refletir sobre a garota, mesmo não a seguindo ele não conseguia evitar pensar nela. Após horas de reflexão o jovem decidiu falar com ela novamente.
Procurou a garota pela cidade toda até finalmente encontrá-la numa parte mais afastada da cidade. Ele a encarou por dois minutos sem falar nada e ela fez o mesmo, então finalmente ele disse
–Me diga o seu nome.
–Isso é mesmo importante? – ela respondeu novamente.
–Sim, pois sem seu nome não vou poder saber quem é você.
–Por que você quer saber quem eu sou?
–No inicio foi porque te achava bonita, mas agora tenho curiosidade de saber o que você é.
–Muito bem, meu nome é “Tenebris”. O que vai fazer com essa informação é problema seu. – disse ela calmamente, novamente a jovem partiu sem falar mais nada e continuou a andar pela cidade, deixando o garoto com o coração a cem por hora. Em sua casa o jovem decide que irá acordar cedo para pesquisar sobre a menina.
Primeiro foi ao cartório checar o que há de informações sobre a menina, mas descobre que não há nada lá que prove a sua existência, era uma segunda-feira e ficava mais frio a cada dia, apesar e a cidade estar em um ponto alto o frio estava aumentando mais que o normal. O garoto vai até a escola e procura saber se a jovem está matriculada, mas descobre que não, era estranho já que ele acreditava que a garota tivesse a mesma idade que ele.
Ele Foi à biblioteca e procurou saber o significado do nome da jovem, então descobriu que significava: “escuridão” em latim. “O que levaria uma mãe a chamar sua filha de escuridão?” ele perguntou-se, então se lembrou de que a bela jovem tinha profundos olhos escuros, mas ainda era um nome pesado para uma criança.
Não querendo encarar a garota até entender mais sobre a situação passou a noite na biblioteca, mas não descobriu nada de útil e decidiu ir embora de manhã, ao chegar em casa foi direto para a cama dormir. Nos dias seguintes ele só pesquisou sobre a garota sem obter resultado. Após o fim da semana as aulas recomeçaram e ela não encontrava a garota em lugar algum da escola. O jovem decidiu que iria encontrar a garota e matar suas duvidas de uma vez por todas.
Na sexta-feira o jovem procurou a garota durante a noite e não demorou muito para encontrá-la, ela estava na praça parada de baixo de uma arvore observando as estrelas. Quando o jovem se aproximou ela disse:
–Finalmente você veio.
– Eu quero te perguntar uma coisa. – ele respondeu
–Deixe-me te perguntar primeiro: qual é o seu nome? – a garota pergunta ao jovem.
–Meu nome é “Mortuus”, agora me diga: o que é você?
– Você está mesmo curioso. Eu sou simplesmente algo que não existe.
–Como assim? Você esta aqui agora mesmo.
–Estou aqui só para você, pois você tem um grande vazio dentro de você.
–Ainda não entendi.
–Seu nome significa “morte” porque você é como eu. Eu sou a escuridão, o espírito que a personifica, e você é a morte. – a jovem explica ao garoto, agora mais confuso do que nunca.
–Eu não estou morto! Eu tenho registros e memórias como prova. – o jovem responde com a voz forte.
–Correto, você não está morto, você é a morte. A vida que você tem hoje veio do seu desejo de conhecer a vida, por isso você não tem contato com seu “pai” não é que esteja morto é que ele não existe, ele só não existe e sua “mãe” é uma mulher que viu seu poder e ficou louca, por isso ela ficou com essa posição, para não te atrapalhar.
–Isso não faz sentido. Como eu poderia não existir?! Isso é…
De súbito a garota lhe deu um beijo e ambos se transformaram, a garota se tornou uma mulher de uns vinte anos que deixava seu corpo totalmente despido, e o garoto se tornou um homem de vinte anos também, mas sua memória havia voltado e ele se lembrara do que realmente era: um espírito que personificava a morte.
–Venha minha querida – disse Mortuus –, é hora de deixarmos o plano dos vivos e voltarmos para nosso próprio mundo.
–Me diga meu querido, por que você tinha tanto interesse por esses mortais?
–Porque eles têm uma habilidade que nós, espíritos não temos há muito tempo. A capacidade de sorrir, de ter curiosidade, de sentir amor e piedade pelo próximo, apesar de vários deles estarem perdendo essas capacidades.
– Esses sentimentos são realmente bons?
–São as melhores capacidades deles. É uma pena estarem perdendo isso, logo serão apenas cascas vazias.
– Me conte mais sobre esses sentimentos, mas antes vamos de volta ao nosso mundo – então atravessaram um portal de ferro negro e com símbolos amedrontadores, logo desapareceram numa névoa negra e o portão sumiu, mas a cidade não deu pela falta deles nos dias seguintes, como se nunca tivessem existido.
Crédito:
Guilherme Martins
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