A biblioteca de Nag Hammadi
Medo

A biblioteca de Nag Hammadi



Em uma manhã do ano de 1945, três irmãos camponeses residentes na cidade de Nag Hammadi, no Egito, saíram de casa sedentos por vingança. O seu pai havia sido assassinado dias atrás e o autor desse crime deveria sofrer as consequências na mesma moeda.

Após executarem o assassino a enxadadas, evadiram-se do local e partiram em busca de regiões ricas em terra vermelha, um fertilizante natural encontrado próximo a um paredão de rochas nas margens do rio Nilo.



Quem poderia imaginar que as mesmas enxadas utilizadas para ceifar a vida do criminoso, iriam encontrar um antigo jarro enterrado profundamente. Quebraram-no rapidamente em busca de ouro, mas o seu conteúdo era composto apenas de livros velhos.


Decepcionados, os irmãos carregaram os livros de volta para casa, sem nenhum cuidado no manuseio. Ao cair da noite, a mãe utilizou algumas folhas de papiro junto com gravetos para manter o fogo do lar vivo.


Algumas semanas se passaram desde a descoberta. Mohamed Ali al-Samman, um dos irmãos, com medo de ser identificado pela polícia, decidiu deixar a coleção de livros nas mãos do sacerdote Basílio.

Não demorou muito tempo para que os livros fossem enviados para o Museu Copta do Cairo, onde um trabalho de análise e tradução teve inicio.

Conteúdo

A coleção de livros foi nomeada de Biblioteca de Nag Hammadi em homenagem a cidade onde a descoberta aconteceu. Essa região sempre foi conhecida por ter uma forte presença cristã desde os primeiros anos do cristianismo.


As obras encontradas são de extrema importância para conhecermos o cristianismo primitivo, pois nos mostra a pluralidade de manifestações religiosas cristãs presentes nos séculos II, III e IV.

A coleção contém textos de diversas categorias: evangelhos apócrifos, poemas, descrições filosóficas, mitologia, magia e instruções para práticas místicas.

A biblioteca é composta por 13 códices escritos em copta (linguagem egípcia da era romana) e encadernados com couro de animais. No total, 52 documentos distintos foram identificados, entre eles o Evangelho de Tomé e o Evangelho de Maria Madalena.

Uma cópia do Corpus Hermeticum, livro muito antigo atribuído ao mestre egípcio Hermes Trimegistus, também faz parte desse magnífico acervo. Além dele, uma tradução parcial da obra A República de Platão.

A surpresa da comunidade acadêmica com essa descoberta foi grandiosa. Apesar de haver registros históricos sobre a existência de muitos dos documentos encontrados, não existia cópias completas dos mesmos.


Não há certeza acerca do ano em que as obras foram concebidas, mas sabemos que elas foram escritas, originalmente, na linguagem grega e traduzidas para o copta ente os anos 350-400.

Autores

A Biblioteca de Nag Hammadi pertencia a um movimento cristão conhecido, atualmente, como Gnósticos. A palavra grega ‘gnose’ significa conhecimento e os gnósticos eram aqueles que procuravam Deus através da busca pelo conhecimento.

Segundo Marcelo del Debbio: "Gnosticismo designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose, com influências do neoplatonismo e dospitagóricos. Este movimento revindicava a posse de conhecimentos secretos (a “gnose apócrifa“, em grego) que, segundo eles, os tornava diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento."

Não existe nenhum registro sobre a qual comunidade específica teria pertencido tão preciosa coleção. Uma pesquisa arqueológica feita na região da descoberta não forneceu nenhuma pista interessante. Além disso, não podemos encontrar nada nos textos que indique sua fonte.

Perseguição

Quando Constantino declarou o Cristianismo como religião oficial, os bispos católicos começaram uma perseguição ferrenha aos grupos considerados heréticos, sendo os gnósticos um dos mais perseguidos.

A biblioteca foi enterrada em meados do século IV, quando a repressão imposta pelos bispos católicos era uma das mais ferrenhas da história. Quem enterrou os códices dentro do jarro nas margens do rio Nilo sabia que o fim estava próximo e desejava salvar tais documentos para posteridade.

Os gnósticos foram exterminados completamente antes do final do século V. Enquanto eles meditavam e procuravam Deus dentro de si, o clero da Igreja Romana tinha os pés fincados no mundo material e procurava destruir tudo àquilo que ia contra os interesses políticos da instituição.


Apesar de ambos serem monoteístas e apoiarem a noção de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, os gnósticos e a igreja tinham opiniões bastante conflitantes sobre o nascimento, a vida e a morte de Jesus.

Fontes: Caos no Sistema e Wikipédia

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