Tormento
Medo

Tormento



Gerald estava deitado em sua cama olhando fixamente para o teto. Naquele momento, muitos pensamentos e sentimentos passavam por sua cabeça. Ele não queria ter esses tais pensamentos e sentimentos, mas devido ao seu estado emocional, era inevitável. Revoltado com acontecimentos recentes, Gerald sentia um desejo incontrolavel de dar um fim aquilo que o incomodava.

Há um tempo atrás Gerald se mudou para uma nova casa, mas o que parecia ser um nova etapa em sua vida, se tornou uma época de transtornos. Em um local que parecia tranquilo, havia uma vizinhança que aparentemente era amigável, mas na verdade, essas pessoas não passavam de um bando de mal-educados. A todo o custo essas pessoas queriam de alguma forma incomodar Gerald, seja por barulhos em horários indevidos ou por frases maldosas em forma de indiretas. Gerald sempre foi um rapaz tranquilo, não gostava de desavenças e nem de injustiças, não entendia o porque de toda aquela maldade, mas descobriu por si só o quanto o ser humano pode ser mau. Observando cada movimento, ele sabia que algo errado havia com aquela vizinhança. Gerald conseguiu lhe dar bem com isso por algum tempo, mas como tudo tem um limite e as provocações chegaram a um nível absurdo, Gerald decidiu dar um fim a esse tormento, queria retribuir todas as ofensas recebidas e ir mais além, queria provocar dor aos seus desafetos.

Gerald pegou a arma herdada de seu pai, uma pistola calibre 12 com muita munição, e estava praticamente pronto para começar seu plano de vingança. Enquanto esperava o momento exato de agir, Gerald andava de um lado para o outro, indo de cômodo em cômodo, pisando firme e com respiração ofegante, com o sentimento de ódio crescendo cada vez mais. Até que, ao voltar para a sala, notou que havia alguém sentado na poltrona.

- Olá Gerald! - disse esse alguém.

Gerald não disse nada, apenas ficou espantado com o que viu, ou melhor, com quem viu. Gerald estava vendo ele mesmo sentado no sofá, com uma pequena mas significante diferença. O Gerald da poltrona estava mais magro, com rugas no rosto, sorriso sarcástico e olhar de ódio.

A cópia de Gerald se levantou e caminhou até o Gerald original, colocou as mãos sobre seus ombros e disse:

- Quer saber o que sou ? - Sou seu ódio materializado...Estou aqui para ajuda-lo a cumprir seu plano!

Espantado e confuso, Gerald olhava para aquele ser idêntico a ele sem dizer uma palavra, apenas vinham em sua cabeças pensamentos e lembranças ruins.

- Eles querem atrapalhar a sua vida...Querem que você morra! - continuava falando o Gerald do mal.

Naquele momento Gerald tinha a absoluta certeza do que queria fazer, estava decidido a finalizar seu plano e eliminar aqueles que lhe fizeram mal.

 - Isso! Não pense muito...Apenas faça! - incentivava o Gerald do mal.

Enquanto colocava munição na calibre 12, Gerald olhou para a estante da sua sala. Nela, estavam as fotos de família. Havia fotos dos pais, irmãos, irmãs, e bem ao lado, uma foto da garota que ele amava. Nesse momento, Gerald voltou a si e conseguiu rapidamente raciocinar sobre o que estava pretendendo fazer.

- Vamos Gerald...Chegou o momento! - continuava incitando o Gerald do mal.
- É verdade...Chegou o momento! - Disse Gerald olhando fixo para sua cópia maléfica.

Engatilhando a arma rapidamente, Gerald atirou contra aquele ser demoníaco o derrubando para trás! Ele ainda se aproximou da sua cópia do mal e deus mais dois tiros, ambos certeiros ma cabeça, praticamente a desintegrando.

Gerald largou a arma, levou as mãos a cabeça e disse: - Oh Deus!

Gerald foi se afastando do corpo desfigurado de sua cópia do mal, encostou na parede, foi deslizando até se sentar e começou a chorar copiosamente. Ele ficou por ali por mais de uma hora, de cabeça baixa, chorando e refletindo sobre sua vida e sobre a atrocidade que iria cometer.

Quando Gerald levantou a cabeça, notou que o corpo da sua cópia do mal havia desaparecido, também não havia sinais do sangue que se espalhou pela sala. Gerald tentava entender se aquilo realmente aconteceu ou foi coisa de sua mente perturbada. Naquele momento, isso não importava mais.

Tempo depois, já se sentindo mais tranquilo, Gerald decidiu acabar com todo aquele tormento, mas de uma forma diferente. Ele aguentou firme, ficou em silêncio, evitou certos contatos, até que por fim, conseguiu se mudar para um local melhor e digno de ser chamado de lar.

Mesmo sabendo que alguns dos seus desafetos mereciam uma punição severa, Gerald não queria ser responsável por aplicar a justiça, deixaria o tempo se encarregar de dar as pessoas aquilo que elas merecem, bem ou mal. Afinal, o tempo é o vingador, e é ele quem coloca tudo em seu devido lugar. Gerald conseguiu dominar seu demônio interior...mas até quando?

Te faço essa mesma pergunta...

Autor: Felipe AG




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