O holocausto brasileiro: O hospital Colônia em Minas Gerais
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O holocausto brasileiro: O hospital Colônia em Minas Gerais



Olá amigos e amigas. Vocês já devem ter se habituado a ler aqui no blog Noite Sinistra, textos falando de algum assassino ou serial killer terrível. Outras vezes vocês já acompanharam matérias que falavam de massacres étnicos e batalhas sangrentas em guerras. No texto de hoje abordaremos o que provavelmente é o maior massacre cometido em terras brasileiras, onde o descaso e a indiferença causaram a morte de cerca de 60 mil pessoas ao longo de 50 anos.

Os amigos e amigas podem conferir essa matéria de duas formas diferentes, via texto ou assistindo ao vídeo (no final dessa matéria) que eu fiz sobre o assunto.


O Holocausto brasileiro

Palco de uma das maiores atrocidades contra a humanidade no Brasil, o hospício conhecido como Colônia, em Barbacena (MG), violou, matou e mutilou dezenas de milhares de internos. Acredita-se que de 1930 até 1980 cerca de 60 mil pessoas morreram dentro dos murros do hospital Colônia.

O que era antes um sanatório particular para tratamento de tuberculose passou a ser o primeiro hospital psiquiátrico de Minas, dando assistência para pessoas com todo tipo de problema psiquiátrico.

Com o passar dos anos, o tratamento dispensado aos pacientes passou a ser desumano e degradante, atingindo elevadas taxas de mortalidade. O hospital Colônia tornou-se depósito de doentes e marginalizados, minorias. Alcoólatras, homossexuais, prostitutas, epiléticos, tímidos e até meninas que engravidavam antes do casamento eram mandadas para lá. Aproximados 70% dos pacientes não tinham doença mental alguma. Inevitavelmente, Barbacena ganhou o título de “Cidade dos Loucos”.

Os internos perdiam suas roupas e até o seu próprio nome. Viviam nus, comiam ratos, bebiam água do esgoto, dormiam ao relento e às vezes amontoados. Nas noites geladas, eram cobertos por trapos. Morriam pelo frio, pela fome ou por doença, que, na maioria das vezes, eram adquiridas pelos maus tratos. Em alguns períodos, chegou-se a registrar uma média de 16 óbitos ao dia.

A instituição tornou-se entreposto de comércio de cadáveres, sendo os corpos vendidos para faculdades de medicina. Quando não havia interessados na compra, os defuntos eram banhados em ácido no pátio, diante dos outros internos.

Até o ano de 1980 cerca de 1853 corpos foram vendidos para 17 faculdades diferentes, sem contar as diversas "peças anatômicas" como fígados e corações, sem contar os esqueletos negociados. Acredita-se que esse comércio movimentou um montante de 600 mil reais.


O Hospital Colônia

Criado pelo governo estadual, em 1903, para oferecer "assistência aos alienados de Minas", até então atendidos nos porões da Santa Casa, o Hospital Colônia tinha, inicialmente, capacidade para 200 leitos, mas atingiu a marca de cinco mil pacientes em 1961, tornando-se endereço de um massacre. A instituição, transformada em um dos maiores hospícios do país, começou a inchar na década de 30, mas foi durante a ditadura militar que os conceitos médicos simplesmente desapareceram. Como já foi mencionado anteriormente, para lá eram enviados desafetos políticos, homossexuais, militantes políticos, mães solteiras, alcoolistas, mendigos, pessoas sem documentos e todos os tipos de indesejados, inclusive, doentes mentais.

Sem qualquer critério para internação, os deserdados sociais chegavam a Barbacena de trem, vindos de vários cantos do país. Eles abarrotavam os vagões de carga de maneira idêntica aos judeus levados, durante a Segunda Guerra, para os campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia. Os considerados loucos desembarcavam nos fundos do hospital, onde o guarda-freios desconectava o último vagão, que ficou conhecido como "trem de doido". A expressão, incorporada ao vocabulário dos mineiros, hoje define algo positivo, mas, na época, marcava o início de uma viagem sem volta ao inferno. Wellerson Durães de Alkmim, 59 anos, membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise, jamais esqueceu o primeiro dia em que pisou no hospital em 1975.

"Eu era estudante do Hospital de Neuropsiquiatria Infantil, em Belo Horizonte, quando fui fazer uma visita à Colônia 'Zoológica' de Barbacena. Tinha 23 anos e foi um grande choque encontrar, no meio daquelas pessoas, uma menina de 12 anos atendida no Hospital de Neuropsiquiatria Infantil. Ela estava lá numa cela, e o que me separava dela não eram somente grades. O frio daquele maio cortava sua pele sem agasalho. A metáfora que tenho sobre aquele dia é daqueles ônibus escolares que foram fazer uma visita ao zoológico, só que não era tão divertido, e nem a gente era tão criança assim. Fiquei muito impactado e, na volta, chorei diante do que vi."

O esgoto era a fonte de água dos Internos

Entrar na Colônia era a decretação de uma sentença de morte. Sem remédios, comida, roupas e infraestrutura, os pacientes definhavam. Ficavam nus e descalços na maior parte do tempo. No local onde haviam guardas no lugar de enfermeiros, o sentido de dignidade era desconhecido. Os internos defecavam em público e se alimentavam das próprias fezes. Faziam do esgoto que cortava os pavilhões a principal fonte de água. "Muitas das doenças eram causadas por vermes das fezes que eles comiam. A coisa era muito pior do que parece. Cheguei a ver alimentos sendo jogados em cochos, e os doidos avançando para comer, como animais. Visitei o campo de Auschwitz e não vi diferença. O que acontece lá é a desumanidade, a crueldade planejada. No hospício, tira-se o caráter humano de uma pessoa, e ela deixa de ser gente. Havia um total desinteresse pela sorte. Basta dizer que os eletrochoques eram dados indiscriminadamente. Às vezes, a energia elétrica da cidade não era suficiente para aguentar a carga. Muitos morriam, outros sofriam fraturas graves", revela o psiquiatra e escritor Ronaldo Simões Coelho, 80 anos, que trabalhou na Colônia no início da década de 60 como secretário geral da recém-criada Fundação Estadual de Assistência Psiquiátrica, substituída, em 77, pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). A Fhemig continua responsável pela instituição, reformulada a partir de 1980 e, recentemente, transformada em hospital regional. Hoje, o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB) atende um universo de 50 cidades e uma população estimada em 700 mil pessoas.


Capim como cama

Os pacientes da Colônia, em sua maioria, dormiam no "leito único", denominação para o capim seco espalhado sobre o chão de cimento, que substituía as camas. O modelo chegou a ser oficialmente sugerido para outros hospitais "para suprir a falta de espaço nos quartos."

Em meio a ratos, insetos e dejetos, até 300 pessoas por pavilhão deitavam sobre a forragem vegetal. "O frio de Barbacena era um agravante, os internos dormiam em cima uns dos outros, e os debaixo morriam. De manhã, tiravam-se os cadáveres", contou o psiquiatra Jairo Toledo, diretor do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB).

Marlene Laureano, 56 anos, funcionária do CHPB desde os 20, era uma espécie de faz-tudo. "Todas as manhãs, eu tirava o capim e colocava para secar. Também dava banho nos pacientes, mas não havia roupas para vestirem. Tinha um pavilhão com 300 pessoas para alimentar, mas só tinha o suficiente para 30. Imagine! Só permaneci aqui, porque tinha a certeza de que um dia tudo isso ia melhorar, sei que Deus existe."



A descoberta

Como dito anteriormente a situação do hospital Colônia se agravou durante o período da ditadura militar, época em que pouquíssimas pessoas se opunham as vontades e desvontades do governo militar. Assim fica fácil identificar porque tantos maus tratos aconteceram sem que ninguém denunciasse as atrocidades. Afinal a quem denunciar?

No ano de 1961 imagens registradas pelo fotógrafo Luiz Alfredo, então correspondente do jornal "O Cruzeiro", foram incluídas em um livro intitulado "Colônia". As imagens foram fruto de uma investigação de 30 dias, e registraram a rotina dentro do campo de concentração brasileiro. Porém o livro foi publicado apenas no ano de 2008.

O assunto voltou a mídia recentemente graças ao lançamento do livro: “Holocausto Brasileiro: Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes no Maior Hospício do Brasil”, dá jornalista investigativa Daniela Arbex.

O objetivo do livro é fazer com que os brasileiros fiquem cientes do que aconteceu na época. Sem nenhuma forma de censura, mostra exatamente a classificação de “indesejado social”, estigma criado pelos governantes e pela população.

Condenação dos culpados

Lá já se vão mais de 50 anos desde que as fotografias de Luiz Alfredo foram registradas, e desde lá ninguém foi punido pelo o que aconteceu em Barbacena, a exemplo de tantos outros crimes cometidos na época do regime militar. Em qualquer outro país do mundo antigos crimes são investigados, mas não no Brasil, aqui parece que é melhor esquecer a dor que essas antigas feridas já causaram, e deixar os responsáveis por tais atos livre e impunes. A impunidade no Brasil é uma doença muito antiga por sinal. E o melhor de tudo é que a instituição continua funcionando, abrigando 190 pacientes sob a guarda do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB).

Abaixo podemos conferir algumas das imagens registradas por Luiz Alfredo:










Crianças muitas vezes eram internadas juntos com as mães


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