Gesina Gottfried, o Anjo Demônio de Bremen
Medo

Gesina Gottfried, o Anjo Demônio de Bremen



“Uma psicopata clássica.” (Harold Schechter)

A história da misteriosa Gesina (Gesche no alemão) Gottfried tem sido especulada a um longo tempo. Conhecida em sua terra como Gesina, die Teufelsbraut (Gesina, a Noiva de Demônios), muitos cospem ao passar pelo lugar onde ela foi decapitada, mesmo isso tendo acontecido há 183 anos. Mas um fato parece explicar o ódio e nojo dos residentes de Bremen para com ela: Gesina era uma impiedosa assassina, e o rastro de morte que a seguia fez dela uma das piores serial killers envenenadoras da história.


Gesina nasceu Gesche Margarethe Timm, em Bremen, Alemanha, no dia 6 de março de 1785. De família humilde – seu pai era alfaiate e sua mãe, costureira – Gesina viveu uma vida modesta, em meio a uma família que tinha a religião como valor mais importante. Ao atingir a adolescência, a típica beleza da mulher alemã tomou seu corpo. Atraente, loira e de olhos azuis, Gesina começou a atrair a atenção dos homens da cidade; pretendentes não lhe faltavam. Aos 20 anos ela se casou com o melhor deles, Johann Miltenberg, um empresário bem sucedido. Agora ela tinha uma vida de luxo.

Gesina era espetacularmente linda por fora, mas assustadoramente horrível por dentro. E sua maldade logo começou a ser colocada à prova. Seu marido Johann era tão bom em ganhar dinheiro quanto era em perdê-lo. Ele gastava grande parte dele em bebedeiras e prostitutas. Sua vida não era na casa do casal em Pelzerstraße, mas sim nos bares; bêbado, batia em Gesina ao chegar em casa. Isso logicamente não agradou nem um pouco à sua bela esposa. Gesina sabia que sua mãe usava arsênico para matar ratos, e já que seu marido era um rato, por que não fazer o mesmo? Ela começou a testar o veneno em Johann, misturando-o à sua cerveja. O arsênico era um item popular, de venda livre, na Europa do século XIX, comercializado sob diversas formas e usado para aplicações variadas, tais como pesticida e cosmético. Entretanto, misturado à comida ou bebida de alguém, tinha efeitos devastadores.

O casamento de Gesina e Johann durou oito anos e o casal teve três filhos: Adelheid, Johanna e Heinrich. Dois outros filhos morreram logo após o parto. O marido Johann morreu em primeiro de outubro de 1813, a primeira vítima da mulher de 28 anos, que logo se tornaria uma serial killer.

Uma mulher jovem e bonita como ela não poderia ficar sozinha; poucas semanas depois da morte do marido, ela acertou o coração do vendedor de vinhos Michael Christoph Gottfried, homem rico e muito tímido. Dele, ela adotou o sobrenome e virou Gesina Gottfried.

Mas o novo namorado da loira não gostou da ideia de, junto a ela, vir toda a sua prole. E foi aí que Gesina decidiu assassinar os próprios filhos. A menina Johanna, de três anos, morreu em 10 de maio de 1815, e oito dias mais tarde faleceu sua outra filha, Adelheid, de seis anos. Quatro meses depois foi a vez de Gesina envenenar seu filho Heinrich, de cinco anos. Nesse meio tempo ela também assassinou os próprios pais. Eles eram contra o relacionamento da filha com Michael. Como Gesina não era mulher de deixar a desaprovação dos pais ficar no caminho, ela os envenenou. A mãe, Gesche Margarethe Timm, morreu no mesmo mês em que seus dois netos faleceram. Em junho foi a vez de seu pai, Johann Timm, encontrar o criador. Assim, em apenas quatro meses, Gesina liquidou toda sua família: pai, mãe e seus três filhos.

A cidade de Bremen ficou chocada com as mortes e expressou toda a sua solidariedade pela viúva cujo sofrimento ninguém sequer imaginava entender.

Harold Schechter diz em seu livro Serial Killers – Anatomia do Mal, que psicopatas mulheres não são menos depravadas que suas contrapartes masculinas. Mas diferentemente de psicopatas serial killers de sexo masculino, que se sentem excitados em mutilar e penetrar brutalmente uma vítima, a excitação delas vem de “uma grotesca e sádica paródia de intimidade e amor”. A maioria das serial killers ao longo da história recorreu ao veneno para despachar suas vítimas. Elas atingem o clímax administrando lentamente doses de veneno em seus amigos ou familiares ao mesmo tempo em que cuidam das vítimas, exercendo o seu “papel” de mulher. Submeter pessoas próximas a mortes lentas e excruciantes, convertendo-os em cadáveres, é o que as excita. Envenenadoras são tão sádicas como os mais doentios assassinos torturadores, e Gesina Gottfried é uma delas, uma psicopata sádica e aterrorizante que extraía um prazer intenso e doentio do sofrimento de suas vítimas.

A morte por ingestão de arsênico é, por si só, horrenda. Posso dizer que as vítimas trucidadas de Jack, O Estripador tiveram uma morte muito menos dolorosa que as de Gesina Gottfried. As vítimas do estripador londrino eram mutiladas após a morte, e o golpe inicial na garganta era tão rápido que provavelmente muitas delas levavam poucos segundos para morrer. Já as vítimas da envenenadora alemã não tinham tanta sorte. O primeiro sinal de envenenamento por arsênico é uma sensação de irritação na garganta. Logo surgem náuseas, cada vez mais insuportáveis. Então começam os vômitos. Eles continuam por muito tempo depois que o estômago está vazio, até que a vítima esteja vomitando um líquido fétido e esbranquiçado manchado de sangue. A boca fica ressecada, a língua inchada, a garganta contraída. A vítima é acometida de uma sede terrível. Qualquer coisa que ela beba, entretanto, só faz o vômito piorar. Logo uma diarreia incontrolável – quase sempre com sangue e acompanhada de lancinantes dores abdominais – acomete o infortunado. Algumas vítimas experimentam uma violenta queimação que se estende da boca ao ânus. A urina é escassa e de cor avermelhada. Conforme o tempo passa, o rosto da vítima adquire uma tonalidade azulada. Os olhos perdem o vigor. A pele fica ensopada de suor, que exala um odor extremamente fétido. A respiração da vítima torna-se difícil e irregular, as extremidades do corpo esfriam, a pulsação fica fraca. Pode haver convulsões nos membros e terríveis cãibras nos músculos das pernas. Dependendo da quantidade de veneno consumido, este tormento pode durar de cinco ou seis horas a vários dias. A morte, quando finalmente chega, é uma misericórdia.


 serial killer alemã voltaria a matar um ano depois de enterrar toda a família; a vítima? Seu irmão gêmeo.

No início do verão de 1816, seu irmão gêmeo alcoólatra, Johann Timm, há muito tempo sumido, tirou uma licença do Exército e voltou para Bremen. Gesina não gostou nem um pouco de ter um membro da família por perto. Ele poderia começar a fazer perguntas inconvenientes sobre a morte dos seus pais, ou então reivindicar sua parte na herança… Era melhor dar cabo do irmão, e assim ela o fez, em primeiro de junho de 1816, misturando veneno de rato à sua comida. Sua morte foi atribuída a uma doença venérea.

Meses se passaram e Gesina ficou grávida, mas estranhamente hesitou em oficializar o relacionamento com Michael Gottfried… Mulher estranha. Enquanto sua barriga crescia, Michael cada vez menos apreciava estar ao lado dela… todas essas mortes… Assim Gesina começou a envenená-lo aos poucos e, enquanto ele caía doente, lá estava ela ao seu lado, ajudando-o e cuidando dele com afinco. Ela era tão solícita e dedicada ao cuidar de suas vítimas que o povo da cidade a apelidou de “Anjo de Bremen”. Em suas últimas horas de agonia, já em delírio, Michael teve seu pedido atendido; Gesina casou-se com ele e o homem transmitiu a posse de todos os seus bens para a nova esposa. Ele morreu em 5 de julho de 1817. Alguns sugerem que a morte de Michael tenha sido o ápice do sadismo dessa psicopata. Numa espécie de controle da morte, ela não aceitou se casar com ele enquanto ele estava são, experimentando suas habilidades e manipulando os últimos dias do marido num jogo sádico mortal que tinha como objetivo levar seu prazer até o último segundo possível para, enfim, oficializar sua união. O filho que ela esperava… Esse não nasceu. Ela o matou dentro da própria barriga após ingerir uma receita de biscoitos contendo arsênico. Sua mãe costumava preparar tal receita como “controle de pragas”, e talvez Gesina considerasse seu filho um ratinho, uma praga, que precisava ser erradicada.

Após a morte de Michael, Gesina experimentou um tempo de tranquilidade. Em 1821 ela alugou/comprou (as fontes divergem quanto a isso) uma casa na Pelzerstraße 37. Morava num dos quartos e ganhava uma grana do aluguel dos outros.

Mas dificuldades financeiras vieram e ela mudou-se para o bairro de Obernstraße. Em 1822 ela fez uma viagem até a cidade de Stade, na Baixa Saxônia, a pouco mais de uma hora de viagem de Bremen. Lá, se envolveu num episódio não muito bem explicado. Não se sabe se ela roubou ou teve o seu dinheiro roubado. O fato é que ela voltou para Bremen com uma mão na frente e outra atrás. Falida, ela precisava urgentemente de um novo marido.

Em 1823 ela aceitou o cortejo do vendedor de chapéus Paul Zimmermann. O que o homem não sabia era que a loira colocava arsênico nos biscoitos que ele comia. Em primeiro de junho de 1823, Paul Zimmermann faleceu em agonia, deixando uma pequena herança para Gesina. Agora ela tinha uma casa.

Como o serial killer Jeffrey Dahmer, que em 1991 encontrava-se como “um trem desgovernado na trilha da loucura”, podemos dizer que este é o ponto onde Gesina perdeu completamente o controle (se é que ela tinha algum). Após matar Zimmermann, ela passou a distribuir suas receitas mortais indiscriminadamente a qualquer um que cruzasse seu caminho. Felizmente, muitos dos que comeram ou beberam dos pratos e bebidas de Gesina nessa época sobreviveram. Mas dois anos depois, sua amiga Anna Lucia Mererholz não teve tanta sorte. Misturando arsênico à manteiga, que por sua vez cobria torradas, Gesina convidou sua amiga Anna Lucia, professora de música, para um lanche em sua casa. A mulher morreu sob horríveis dores abdominais, em 21 de março de 1825. Nove meses depois foi a vez do amigo e vizinho Johann Mosees libertar-se de sua dor. Gesina o envenenava há quase um ano com bolos e biscoitos recheados de arsênico. Johann nunca tinha tido uma vizinha tão boazinha; a mulher o enchia de comida, mas ninguém suspeitou que a comida pudesse estar causando os horríveis sintomas que o atingiam. Sua agonia terminou em 5 de dezembro de 1825.

Em 1826, aos 41 anos, depois de ter sua casa tomada pelo banco, Gesina conseguiu um emprego de governanta na casa de Herr Rumpff, um forjador de rodas. Ganhou o simpático apelido de “tia”.

Os Rumpff não tiveram muito tempo de felicidade com a nova integrante da família. Dois dias após dar à luz, Wilhelmine Rumpff, esposa de Herr, faleceu após engolir veneno de rato ministrado pela nova governanta. Finalmente alguns boatos começaram aparecer em Bremen. Estranho, não? Parece que todas as pessoas que entram em contato com Gesina Gottfried acabam morrendo!

Ela continuou trabalhando na casa e, pouco a pouco, Herr Rumpff foi adoecendo. Em 13 de maio de 1827, uma amiga de Gesina, Beta Schmidt, apareceu na casa de Herr juntamente de sua filha Elise. Elise morreu no mesmo dia e sua mãe Beta, num sofrimento terrível, dois dias depois.

Após o duplo assassinato, o Anjo de Bremen viajou até Hanover para pedir dinheiro emprestado a Friedrich Kleine, um velho amigo de negócios que sempre lhe emprestara dinheiro. Gesina devia dinheiro a ele e decidiu liquidar a dívida dando-lhe um delicioso creme. Ele morreu em 24 de julho de 1827. Aos filhos do homem, Gesina disse ter pago todo o dinheiro que lhe devia. Não perdendo tempo, distribuiu vários bolos com arsênico para a rica família de um artesão local. Felizmente, ninguém morreu.

De volta a Bremen, passou a administrar com mais frequência doses de suas receitas venenosas aos Rumpff. Antes ignorando advertências de moradores locais, Herr Rumpff finalmente abriu o olho para o monstro que vivia em sua casa após encontrar pedaços de carne cobertos por uma crosta de pó branco. Talvez aquela coisa fosse a causa dos estranhos e constantes vômitos que acometiam Rumpff. O médico da família foi chamado e ficou horrorizado ao constatar uma “quantidade substancial de arsênico”.

Chegava ao fim o reinado de horror de Gesina Gottfried. Ela foi presa no dia de seu aniversário, 6 de março.

Ao ser questionada, ela confessou o envenenamento de trinta pessoas, das quais dezesseis morreram. Levada a julgamento, poucos tinham dúvidas sobre qual seria o desfecho. Às oito horas da manhã do dia 21 de abril de 1831, uma multidão de 35 mil pessoas se aglomerou para assistir aquela que se tornaria a última execução pública de uma pessoa em Bremen. Milhares de pessoas que dormiram no local para não perder a execução testemunhariam a morte de Gesina Gottfried, uma das piores serial killers do sexo feminino da história. Levada até o local da execução, ela não disse uma palavra, e escutou novamente um oficial declarar sua pena de morte. Soltou um grito de dor quando um carrasco amarrou fortemente suas mãos atrás das costas com uma corda. Movida em silêncio, alguns presentes dizem que ela mexia os lábios, orando. Gesina Gottfried foi decapitada com um golpe de espada, um fim, digamos, muito menos doloroso do que os de suas vítimas. O espetáculo horripilante não agradou aos habitantes locais. Reportagens da época descrevem os espectadores com impressões desagradáveis, e muitos não comeram naquele dia.

A cabeça decepada de Gesina foi colocada em álcool e exposta no museu Domshof. Seu esqueleto foi mantido num armário no Instituto de Patologia do Hospital Municipal de Bremen. Ele foi destruído durante um incêndio na Segunda Guerra Mundial. A cabeça de Gesina sumiu em 1913, talvez tenha sido destruída ou, talvez, esteja na casa de algum colecionador de itens mórbidos.

Esta serial killer é praticamente desconhecida e, fora da Alemanha, há pouquíssimas fontes sobre ela. Podemos dizer que Gesina Gottfried está para os alemães assim como Jeffrey Dahmer está para os norte-americanos. Em língua alemã, há diversos livros e artigos sobre ela, com direito a um livro de 200 páginas que conta sua história em forma de quadrinhos. Qualquer semelhança com My Friend Dahmer não é mera coincidência. 

Muitas mulheres que matam seus próprios filhos são rotuladas como sofredoras da Síndrome de Munchausen Por Procuração (MSBP, na sigla em inglês). De início, presume-se que tais mulheres sofram de alguma doença, uma condição mental latente resultado de uma infância horrível que as levaria a matar os próprios filhos, maridos e parentes. Seriam elas doentes mentais? Insanas? Muitos lutam para entender como uma mãe pode matar seus próprios filhos, mas o fato é que essas mulheres não poderiam se importar mesmo com seus filhos porque elas são como qualquer outro serial killer; são psicopatas, e psicopatas não se preocupam com ninguém a não ser eles mesmos.

Fonte; O Aprendiz Verde




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