Conto do Leitor: O Céu Não Existe
Medo

Conto do Leitor: O Céu Não Existe



Hoje voltamos a publicar aqui no blog Noite Sinistra um conto da série "Conto do Leitor". O conto de hoje foi escrito pela amiga Layse Brasil. Os amigos e amigas poderão conferir o conto "O Céu Não Existe" mais abaixo...aproveitem!!!

O Céu Não Existe

Hoje é noite de Halloween. Minha vó contava várias histórias para mim e minha irmã sobre que nesse dia, os mortos podiam andar e se comunicar com os vivos. E eu nunca acreditei em uma sequer palavra, até hoje.

Ela estava bem ali na minha frente, sentada e sorrindo, como se ainda estivesse viva. Me chamava e convidava a me sentar ao seu lado. Estupefato, eu esfreguei meus olhos, mas não adiantou, ela continuava lá. E sua imagem era clara como a de qualquer outra pessoa viva.

- Ana?! Você... O que... - Tapei minha boca com as mãos sem acreditar na cena em minha frente.

Ana, minha irmã de sete anos, morta há dois anos atrás, estava bem na minha frente e estava banhada em sangue da cabeça aos pés. Não era o sangue dela, era dos meus pais, quero dizer, nossos pais.

- Não se assuste Josh. - A sua voz parecia a mesma, até mesmo sua aparência. - O que foi? Porque está recuando? - Eu olhei para os corpos estraçalhados no chão e depois para ela. - Ah. Então é isso, os nossos pais. Tudo bem, eles não são nossos pai de verdade.

- O que está dizendo Ana? Como podem não ser nossos pais? Você os matou! - Gritei. No mesmo instante o rosto de Ana ficou sério e macabro. O medo me fazia querer vomitar, chorar e correr. Mas eu temia fazer qualquer uma dessas coisas e acabar morto e espalhado pelo chão.

- Como posso matar o que já está morto? - Ela levantou-se do chão. - E como eu disse, eles não eram nossos pais. - Ela lambeu os dedos ensanguentados.

- Do que está falando? Eles estavam vivos, você é quem deveria estar morta! Você... Como pode estar aqui?! Não é real! - Joguei nela um abajur, que transpassou direto por ela e se espatifou na parede. - O que é isso? Ana, você é um espírito? - Ana gargalhou. Sua aparência era infantil, mas ela não agia como minha irmã de sete anos, ela estava diferente.

- Não, Josh bobinho. - Ana era a única que me chamava assim. - Mas é quase isso. O que pensa que eu sou? - Ela tentava chegar perto e eu quase tropeçava ao chegar para trás.

- Ana, seu lugar não é aqui. Você tem quer ir para o céu, deixe-nos em paz. - As lágrimas rolaram dos meus olhos, era dor de mais para eu suportar. - Meu Deus, Ana. Vá embora.

- Josh, ainda não entendeu? - Ela virou a cabeça de lado, como sempre fazia e franziu o cenho. - Não existe céu, não existe Deus e o mundo em que você acha que vive, também é só uma mentira. - Fiquei calado sem entender. - O que eu quero dizer, é que todos nós, não estamos vivos nem exatamente mortos.

- Não, é impossível! Se não estamos vivos nem mortos, se este mundo nem o céu existe, onde estaríamos então? O que seríamos? - Minha mente parece se desmanchar em fragmentos, no meio de toda essa loucura.

- Somos demônios. Todos nós, inclusive você, somos demônios. - Ela sorriu. - Eu posso provar pra você. - Ana levantou as mãos e apontou o dedo para o espelho atrás de mim. Quando virei para ver, meu reflexo e o dela, estavam distorcidos e horríveis. Chifres enormes e pretos saiam de meu crânio e minha meu rosto parecia apodrecido. Fechei meus olhos e olhei de volta para ela, que sem o reflexo, parecia normal.

- Se somos demônios, onde estamos? - Tapei meu rosto com as mãos. - Deus realmente não existe? Eu nunca vou ir para o paraíso?

- Por que você acha que os seres desse mundo vivem sempre em conflito? Causando tragédias horríveis e se recuperando, apenas para sofrer mais tragédias. Pequenos momentos de felicidade que são tão rápidos que quando acabam nos deixam sedentos e viciados por mais, para esquecer que na verdade a dor é muito maior que a alegria. - Ela suspirou. - Somos uma experiência, um programa de entretenimento, feitos para serem torturados e testados até o limite. Este aqui, é o inferno.

- O inferno? Mas quem faria isso com agente?! Não diga que é Deus! - Eu estou enlouquecendo, só posso estar alucinando. Mas é tão real!

- O Deus que você acredita, não existe. Só existe um único ser criador no universo e seu nome é Lúcifer. Ele é imortal e infinito, não teve início e nem fim, ele é absoluto. - A essa hora eu já estava de joelhos, sem saber o que fazer ou dizer. - Você nasce pensando estar num mundo diferente do realmente está, por isso que algumas pessoas se sentem deslocadas, ou que não estão no lugar certo. Nossas famílias não são de verdade, são ilusão, são outros demônios que sugam nossa energia sem nem mesmo saberem.

- Então somos mesmo demônios... porquê você transpassa objetos e eu não? Por que está me contando tudo isso agora? Você nem é minha irmã de verdade então. - Eu disse engasgando. Ana chegou perto e pôs as mãos nos meus ombros.

- Por que estou solitária. Muito solitária. Quando descobri a verdade, percebi novos poderes, novas formas para meus corpo e eu não sabia controlar isso. Mas agora eu sou forte, muito forte. Josh, bobinho, não vá me deixar sozinha neste novo mundo, vai? - Ela me abraçou com força. - Quando você acreditar puramente no que estou te contando, aí você vai se libertar dessa ilusão em que te prendem. - Ela sorriu. - Venha comigo, por favor. Não se esqueça da sua promessa. Se lembra que íamos brincar de pular-corda, mas você não quis e prometeu que íamos brincar depois, mas aí eu "morri".

- O que faço para ir com você? Eu acredito, juro que sim. - Eu desisto, quero ir com ela. Não tem nada aqui que me prenda, eu quero ir! - O que devo fazer, Ana? Me diga, por favor. - Eu tenho que cumprir minha promessa. Eu devo à ela.

- Você tem que enfiar uma faca no seu coração. - Ela sorriu. - Aí você vai finalmente acordar.

- O que? Mas... não vai acontecer nada comigo? - Não sei se consigo. É impossível.

- Enfie esta faca no seu coração. - Ela me entregou uma faca, diferente, era preta até a lâmina. - E não se esqueça de dizer "Aceito". Se não disser isso, você continuará preso a esta realidade. É isto que você quer?

- Não! Me dê esta faca. - Peguei a faca negra e sem hesitar, me esfaqueei no peito esquerdo. - "Aceito"... - Senti a lâmina penetrando e o sangue quente escorrer do meu peito e a dor mis forte que eu senti pulsando em meu peito. A minha visão tava escurecendo e minha respiração não parecendo funcionar.

Eu estava quase inconsciente, quando olhei sorrindo para Ana, mas já não era mais ela. Um monstro deformado e horrendo estava bem a minha frente, com seus chifres vermelhos, rosto desfigurado e a calda comprida. Sorria alegre e de forma macabra, logo senti um choque na espinha.


- Humanos são tão ingênuos, acreditam em qualquer mentira que um demônio possa contar. - O monstro gargalhou alto e sua voz era grosa e misturada com a o que parecia uma voz infantil. - Meu caro, você acabou de vender sua alma para mim. Tenha uma boa viagem ao inferno. - E num instante e desespero, senti minha vida se dissipando. - O diabo também sabe contar histórias, garoto.

Autora: Layse Brasil

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